Texto Anterior
|
Próximo Texto
| Índice | Comunicar Erros
Cifras & Letras Crítica / Crise Autor propõe 'partido da indignação' contra Wall Street Geógrafo marxista disseca origens da crise em misto de manifesto e aula HARVEY DEFINE O NEOLIBERALISMO COMO UM PROJETO DA CLASSE CAPITALISTA PARA CONSOLIDAR SEU PODER
DE SÃO PAULO "Há uma luta de classes, tudo bem, mas é a minha classe, a classe rica, que está fazendo a guerra e estamos ganhando." A frase é do megainvestidor americano Warren Buffett, 81. David Harvey, 76, geógrafo marxista britânico, quer provar que um dos homens mais ricos do mundo pode estar errado. Para isso, conclama cidadãos a criar um movimento anticapitalista ou um "partido da indignação" para derrotar o "Partido de Wall Street". Para embasar a luta, disseca as origens da crise atual. O resultado, misto de manifesto e aula de economia, está em "O Enigma do Capital" (Boitempo). Professor de antropologia da pós-graduação da Universidade de Nova York, Harvey mantém um curso sobre "O Capital", de Karl Marx, na internet. Seus livros "The Limits to Capital" (Limites do capital), de 1982, e "O Novo Imperialismo" (Loyola, 2004) expõem a evolução capitalista e a ascensão das finanças. Esse seu novo volume condensa muitas de suas ideias. Para ele, a crise atual da dívida soberana "tornou-se uma desculpa para a classe capitalista desmantelar o que sobrou do Estado de bem-estar por meio de uma política de austeridade". Harvey parte do princípio de que, no capitalismo, as crises são inevitáveis e necessárias. Servem para restaurar equilíbrios e resolver, ao menos temporariamente, as contradições internas da acumulação do capital. A forma como são enfrentadas define o caráter futuro do sistema. Para averiguar as origens da crise, ele volta aos anos 1970, quando a acumulação capitalista tinha perdido força em razão de conquistas de trabalhadores e de movimentos sociais. Uma "contrarrevolução neoliberal" ocorreu, reconstituindo o nexo Estado-finanças, e o "capital foi reempoderado em relação ao trabalho", escreve. Harvey define o neoliberalismo como um projeto da classe capitalista para consolidar o seu poder. Para ele, autor de "A Brief History of Neoliberalism" (Uma breve história do neoliberalismo), de 2005, a receita foi simples. "Esmagar o poder da classe trabalhadora, dar início ao arrocho salarial, deixando o mercado fazer seu trabalho e colocando o poder do Estado a serviço do capital." Nesses fatos ele enxerga a raiz da crise atual. Especializado em geografia urbana, o autor aproveita para resumir suas análises que ligam a urbanização de Paris, conduzida pelo Barão Haussmann a partir de 1853, à eclosão da Comuna de 1871. Faz conexões também entre o avanço dos subúrbios americanos e as revoltas no final dos anos 1960. O geógrafo afirma que o capitalismo tem sido "surpreendentemente criativo" nos últimos 200 anos, mas esbarra agora em desigualdades crescentes. Sim, diz ele, o sistema vai sobreviver. Mas a que custo?, pergunta. No final, ele resvala para um certo "igualitarismo radical" e acha que "conceber uma sociedade sem acumulação de capital não é diferente em princípio de conceber uma cidade sem carros". "Por que não podemos todos apenas trabalhar lado a lado sem qualquer distinção de classe?", propõe. Suas palavras soam românticas, utópicas e ingênuas. Podem ter eco em protestos de rua. Mas esfumaçam suas análises que querem buscar objetividade. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |