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Taiwan quer ser via de entrada na China
Governo tenta acelerar aprovação de tratados bilaterais que ampliam seu acesso a mercado bilionário chinês
Empresa estrangeira que investir na ilha pode obter regras menos rigorosas para fazer negócios no continente
Estreitamento é a palavra de ordem em Taiwan, ilha menor que o Estado do Rio de Janeiro equilibrada entre as duas principais potências asiáticas --China e Japão.
Para virar a melhor porta de entrada ao gigante mercado chinês, o governo taiwanês luta contra a oposição para acelerar a aprovação dos Tratados Intra-Estreito.
O nome é referência ao braço de mar de no máximo 180 km que separa as "duas Chinas": a oeste, no continente, a República Popular da China; a leste, a insular, que adota oficialmente o nome de República da China.
Considerada uma Província rebelde por Pequim, Taiwan tem relações diplomáticas com apenas 22 países no mundo, mas funciona como país autônomo --comemorou na última sexta-feira (10) sua data nacional.
Com a política de aproximação do atual governo, desde 2008 foram aprovados 21 tratados entre os vizinhos, que abriram espaço aéreo, turismo e investimentos. Estão em negociação o trânsito de produtos e questões tarifárias.
A estratégia taiwanesa é se oferecer como uma opção mais "amigável" para atingir um mercado que deve virar a década com 650 milhões de consumidores de classe média, movimentando mais de US$ 3 trilhões, segundo estimativas (mais que todo o PIB brasileiro atual).
HERANÇA CULTURAL
"Temos uma rede muito forte de negócios na China e a mesma herança cultural. Podemos oferecer a outras companhias explorar o enorme mercado chinês, mas com regras muito estritas", diz a diretora-adjunta do Escritório de Comércio Exterior de Taiwan, Cynthia Kiang.
Com população equivalente à de Minas Gerais e PIB de dimensões comparáveis ao da Bélgica, Taiwan é o segundo maior investidor estrangeiro na China continental.
Cerca de um décimo dos 23 milhões de taiwaneses moram na China ou têm negócios no continente.
O governo estima em até 80 milhões o número de chineses empregados por companhias taiwanesas --apenas a Foxconn, líder mundial na produção de computadores, tem cerca de 1,3 milhão de funcionários na China.
As empresas da ilha produzem hoje 14% do comércio externo da República Popular da China e gozam de uma vantagem em relação às estrangeiras: podem ter 75% do capital, enquanto as de outras nacionalidades só podem operar no continente associadas a chineses e com no máximo 49% do capital.
A vantagem acenada por Taiwan é que, após três anos de investimentos na ilha, as empresas passam a ter direito ao mesmo limite de 75%.
Outra porta de entrada para a China vem dos acordos no setor de serviços, que darão acesso a 80 novos segmentos e ao comércio eletrônico, hoje bloqueado.
Empresas, principalmente as pequenas e médias, poderão usar lojas virtuais taiwanesas para chegar aos consumidores chineses.
PROTESTOS
A aproximação econômica com o país vizinho não é unanimidade entre taiwaneses.
Pesquisas feitas neste ano mostram que mais de 90% da população defende o atual status quo em relação ao continente --nem independente nem anexada--, mas uma parcela teme que os tratados comerciais sejam apenas um primeiro passo para a perda da autonomia política.
As relações cada vez mais próximas do atual governo taiwanês com Pequim --que mantém mais de mil mísseis apontados para Taiwan-- levou estudantes à rua durante semanas no primeiro semestre deste ano, no que ficou conhecido como "Movimento Girassol".
Mas "negócios são negócios. Quando falamos de negócios, não pensamos em política", reage Kiang.
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