Deficit em contas externas vai a 3,7% do PIB
Indicador mede a diferença entre o que o Brasil gasta e recebe nas transações de bens e serviços com outros países
Balança comercial e gasto de turistas acentuaram piora, que pode ter impacto na flutuação do câmbio
O Brasil pode enfrentar um período de incerteza em relação ao câmbio com seu principal indicador de vulnerabilidade externa no pior nível em mais de 12 anos.
O Banco Central informou ontem (24) que o deficit do país nas contas externas alcançou 3,7% do PIB (Produto Interno Bruto) nos 12 meses encerrados em setembro, maior percentual desde fevereiro de 2002 (3,9%).
O indicador considera a diferença entre o que o Brasil gasta e recebe nas transações de bens e serviços com outros países. E compara o resultado dessa conta, que é negativo, com o valor das riquezas geradas pelo país no período.
A piora no indicador, que se acentuou desde 2012, se deve, principalmente, a dois fatores. A balança comercial, superavitária desde 2001, perdeu força nos últimos anos e registra deficit nos nove primeiros meses de 2014.
Há ainda os gastos de brasileiros na conta de viagens internacionais, que não param de crescer e representam hoje 30% do deficit externo (leia texto abaixo).
IMPACTO NO CÂMBIO
A piora nas contas externas é um dos fatores que, historicamente, contribui para pressionar a taxa de câmbio, principalmente em momentos de incerteza em relação ao período eleitoral e ao futuro governo no Brasil.
Neste momento, soma-se a isso o impacto que a possibilidade de mudança na política monetária dos EUA tem causado no mercado desde o ano passado. Ao suspender a injeção de recursos na economia promovida desde 2008, o banco central norte-americano tem contribuído para uma fuga de dinheiro de economias emergentes.
Estudo do FMI (Fundo Monetário Internacional) mostrou que o Brasil está entre os dez países com os maiores deficit externos mundiais.
INVESTIMENTO DIRETO
O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, disse que houve forte aumento do deficit em 2012 e 2013, mas que os valores estão praticamente estabilizados desde então.
Para o governo, "o importante é que as condições de financiamento desse resultado negativo continuam favoráveis", com cerca de 80% do valor sendo coberto por IED (Investimentos Estrangeiros Diretos, dinheiro de longo prazo destinado a empresas).
O restante tem sido coberto por aplicações de estrangeiro em Bolsa e títulos públicos ou por empréstimos. Dessa forma, segundo analistas, o país fica dependente desses recursos, que podem sair do país em momentos de crise, pressionando o câmbio.
Em fevereiro de 2002, o IED em 12 meses equivalia a 4,1% do PIB. Hoje, está em 2,9%.
Para o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), os dados externos não são motivo de preocupação no curto prazo, pois o país tem estoque elevado de reservas em moeda estrangeira para intervir e há espaço para ajuste, mesmo que limitado, na taxa de câmbio para cima.
O instituto afirma, entretanto, que é necessário aumentar a competitividade da indústria brasileira, pois a redução da vulnerabilidade externa do país depende, exclusivamente, das exportações.