Mercado MPME
Rigidez é desafio para atender a baixa renda
Controle de custos é essencial para oferecer serviço a preço compatível
Volume de negócios é outra complexidade de atuar no segmento; classes C, D e E somam quase 100 milhões
Da chegada de um paciente a uma das clínicas da rede Dr. Consulta à conversa com a enfermeira para recomendações finais, gastam-se em média 58 minutos. O tempo é monitorado diariamente.
Segundo Thomaz Srougi, 38, sócio-fundador da companhia, que faz atendimentos a preços populares (uma consulta com cardiologista custa R$ 80), o modelo de negócios só funciona devido a controles rígidos de processos e custos como esse.
"Além de trabalharmos com saúde, somos uma empresa de engenharia de processos e de tecnologia. Não usamos papel, todos os sistemas são informatizados para termos mais dados."
Essa busca por um controle gerencial rígido, que permita oferecer um serviço de qualidade mantendo um bom preço, é o maior desafio das empresas que buscam oportunidades oferecendo produtos e serviços para as classes C, D e E, diz Renato Kiyama, diretor da aceleradora de negócios Artemisia (que auxilia empresas que atuam com o público de baixa renda).
"Para tornar o negócio viável, o empresário terá de conseguir atender milhares de pessoas, com um produto que seja padronizado sem perder a qualidade. É preciso saber exatamente quanto R$ 1 investido vai dar de retorno."
O mercado a ser explorado é grande: As classes C, D e E consomem R$ 1,3 trilhão por ano, segundo o Data Popular, instituto de pesquisas especializado na baixa renda.
Em 2012, havia 97 milhões de pessoas com renda familiar per capita entre R$ 292 e R$ 1.200, de acordo com a Pnad, do IBGE.
Para descobrir onde as oportunidades estão, o ideal é olhar para onde a população dessas classes é mal atendida ou depende de "gambiarras" (serviços informais ou feitos por conta própria), diz Kiyama.
BANCO DOS SEM-BANCO
A PagPop, que fornece máquinas para leitura de cartões de crédito em celulares, e a Acesso, de cartões pré-pagos, uniram-se para aproveitar uma carência dessas.
Marcio Campos, 39, sócio da PagPop, diz que 30% dos empreendedores que usam seus equipamentos não têm conta bancária própria, por estarem na informalidade ou inadimplentes.
Como alternativa, as empresas criaram um cartão pré-pago que armazena os pagamentos recebidos nas maquininhas. A ideia é criar uma espécie de "banco dos não bancarizados", diz Bernardo Faria, 43, diretor da Acesso.
Outra complexidade de atuar no segmento da baixa renda é conquistar credibilidade dos clientes e dar volume para os negócios da empresa, muitas vezes em bairros periféricos, diz Luciana Aguiar, diretora da consultoria Plano CDE.
VIAGEM
A empresa mineira Encontre Sua Viagem, de compra de viagens pela web, apostou no modelo de microfranquias para vencer essas barreiras.
A rede tem 450 empreendedores que pagam de R$ 3.000 a R$ 20 mil para poder vender os pacotes oferecidos pela companhia, diz o sócio Henrique Mol, 29.
"O franqueado divulga as viagens em seu círculo de amizade. Com essa rede, conseguimos uma capilaridade muito maior."
A empresa permite parcelamento em até 12 vezes. Mol diz que a inadimplência é de cerca de 3%.