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Cifras & Letras entrevista - Ricardo Bielschowsky País precisa de produção em massa, diz economista PROFESSOR DA UFRJ IDENTIFICA MOTORES DE DESENVOLVIMENTO EM MERCADO INTERNO, RECURSOS NATURAIS E INFRAESTRUTURA
DE SÃO PAULO O Brasil precisa de uma produção em massa como uma estratégia de desenvolvimento social e nacional. Se houver um consumo em massa no Brasil e a produção em massa na China, o modelo não se sustentará. A avaliação é do economista Ricardo Bielschowsky, 62, professor da UFRJ. Ex-diretor no Brasil da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), ele faz o prefácio de "O Manifesto Latino-Americano e Outros Ensaios" (Centro Internacional Celso Furtado/Contraponto), que reúne escritos de Raúl Prebisch (1901-1986). Rompendo com as maneiras de pensar importadas, o argentino Prebisch inovou. Criou o conceito de "centro e periferia", formando o embrião das análises que enfatizam as relações desiguais de dependência. Ergueu a Cepal e influenciou gerações de economistas. Nesta entrevista, Bielschowsky, autor de "Pensamento Econômico Brasileiro: O Ciclo Ideológico do Desenvolvimentismo" (Contraponto, 1995), fala da atualidade da obra do economista estruturalista e dos desafios atuais do país. Leia os principais pontos: -
Prebisch hoje Continuamos com um Estado e um empresariado pouco vocacionados ao investimento e ao progresso técnico. Não nos desfizemos da heterogeneidade estrutural, produtiva e social e, consequentemente, da pobreza e da má distribuição da renda. Continuamos com excessiva especialização em recursos naturais e insuficiente diversidade exportadora, um quadro agora fortalecido por uma certa "reprimarização" da economia.
Motores de desenvolvimento No entanto, o Brasil tem o privilégio de ter ao mesmo tempo três poderosas frentes de expansão, três motores básicos do investimento: mercado interno de consumo de massa, forte demanda por nossos abundantes recursos naturais e perspectivas favoráveis quanto ao investimento em infraestrutura. Pode-se contar nos dedos de uma mão os países que têm esses três motores.
Tecnologia de ponta Quanto mais se lograr aumentar a agregação de valor nessas cadeias produtivas, tanto maior será nosso desenvolvimento. Se o esforço for para valer, a inovação poderá tornar-se um motor em si mesmo.
Produção de massa Há um círculo virtuoso entre produção em massa e consumo de massa. Está baseado no impulso ao aumento de produtividade derivado dos ganhos de escala e no fato de que são as empresas modernas que produzem em grande escala para os pobres e para os ricos.
Produção X importação É uma estratégia de desenvolvimento social e nacional. Requer a produção no país de parte substancial dos encadeamentos produtivos geradores dos bens e serviços do consumo de massa, inclusive com a recuperação da indústria de bens de capital, maior produção de insumos eletrônicos e da produção nacional dos princípios ativos para a farmacêutica etc.
Comércio O segredo é importar bens e serviços da fronteira tecnológica que não tivermos condições de produzir aqui.
Recursos naturais Precisamos produzir aqui parte considerável das máquinas, sementes e demais insumos, os equipamentos e os serviços de alta tecnologia para extração de petróleo e produção de etanol e para o o ciclo de energia elétrica etc.
Ameaças Segundo, a pressão que o aumento do uso de recursos naturais exerce sobre a natureza e a sustentabilidade. Terceiro, a absorção pelo setor privado ou por interesses públicos menores dos ganhos originados pela valorização dos preços dos bens e serviços baseados em recursos naturais. Lamento que a Vale tenha sido privatizada sem um resguardo mínimo dos interesses nacionais. Queremos bem mais do que apenas exportar ferro e gerar lucro para os acionistas.
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