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Cifras & Letras

entrevista - Ricardo Bielschowsky

País precisa de produção em massa, diz economista

PROFESSOR DA UFRJ IDENTIFICA MOTORES DE DESENVOLVIMENTO EM MERCADO INTERNO, RECURSOS NATURAIS E INFRAESTRUTURA

How Hwee Young - 19.dez.2011/Efe
Operária de fábrica de algodão em Pequim, na China, maneja máquina
Operária de fábrica de algodão em Pequim, na China, maneja máquina

ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO

O Brasil precisa de uma produção em massa como uma estratégia de desenvolvimento social e nacional. Se houver um consumo em massa no Brasil e a produção em massa na China, o modelo não se sustentará.

A avaliação é do economista Ricardo Bielschowsky, 62, professor da UFRJ.

Ex-diretor no Brasil da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), ele faz o prefácio de "O Manifesto Latino-Americano e Outros Ensaios" (Centro Internacional Celso Furtado/Contraponto), que reúne escritos de Raúl Prebisch (1901-1986).

Rompendo com as maneiras de pensar importadas, o argentino Prebisch inovou.

Criou o conceito de "centro e periferia", formando o embrião das análises que enfatizam as relações desiguais de dependência. Ergueu a Cepal e influenciou gerações de economistas.

Nesta entrevista, Bielschowsky, autor de "Pensamento Econômico Brasileiro: O Ciclo Ideológico do Desenvolvimentismo" (Contraponto, 1995), fala da atualidade da obra do economista estruturalista e dos desafios atuais do país.

Leia os principais pontos:

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Prebisch hoje
A América Latina, mesmo tendo avançado bastante desde o "O Manifesto Latino-Americano" [1949], é uma região em que seguem predominando várias das características apontadas por Raúl Prebisch.

Continuamos com um Estado e um empresariado pouco vocacionados ao investimento e ao progresso técnico. Não nos desfizemos da heterogeneidade estrutural, produtiva e social e, consequentemente, da pobreza e da má distribuição da renda.

Continuamos com excessiva especialização em recursos naturais e insuficiente diversidade exportadora, um quadro agora fortalecido por uma certa "reprimarização" da economia.

Motores de desenvolvimento
Ninguém pode estar perfeitamente otimista dada a situação da economia mundial.

No entanto, o Brasil tem o privilégio de ter ao mesmo tempo três poderosas frentes de expansão, três motores básicos do investimento: mercado interno de consumo de massa, forte demanda por nossos abundantes recursos naturais e perspectivas favoráveis quanto ao investimento em infraestrutura.

Pode-se contar nos dedos de uma mão os países que têm esses três motores.

Tecnologia de ponta
O país não pode ficar parado em inovação e em investimentos em segmentos selecionados de alta tecnologia. Eles serão responsáveis por turbinar os três motores que possuímos.

Quanto mais se lograr aumentar a agregação de valor nessas cadeias produtivas, tanto maior será nosso desenvolvimento. Se o esforço for para valer, a inovação poderá tornar-se um motor em si mesmo.

Produção de massa
O mercado de massa se afirmou no Brasil. Os empresários do setor produtivo aprenderam que podem ganhar muito dinheiro com redução da pobreza e melhoria distributiva.

Há um círculo virtuoso entre produção em massa e consumo de massa. Está baseado no impulso ao aumento de produtividade derivado dos ganhos de escala e no fato de que são as empresas modernas que produzem em grande escala para os pobres e para os ricos.

Produção X importação
O que ainda não está claro no país é se a produção em massa estimulada pelo consumo de massa será feita no país, ou se teremos consumo de massa no Brasil e produção em massa na China. Se for desse jeito, o modelo não se sustentará. É preciso haver, também, produção em massa no Brasil.

É uma estratégia de desenvolvimento social e nacional.

Requer a produção no país de parte substancial dos encadeamentos produtivos geradores dos bens e serviços do consumo de massa, inclusive com a recuperação da indústria de bens de capital, maior produção de insumos eletrônicos e da produção nacional dos princípios ativos para a farmacêutica etc.

Comércio
Somos bons exportadores do que produzimos bem para o mercado interno. Aumentar as importações será sempre preciso, como consequência do crescimento.

O segredo é importar bens e serviços da fronteira tecnológica que não tivermos condições de produzir aqui.

Recursos naturais
Somos abundantes. Nesta era de expansão do consumo asiático, isso pode implicar espetaculares ganhos.
Mas as atividades baseadas em recursos naturais não podem ser meros enclaves, de onde saiam as matérias-primas sem deixar rastro de emprego, progresso técnico e bem-estar social.

Precisamos produzir aqui parte considerável das máquinas, sementes e demais insumos, os equipamentos e os serviços de alta tecnologia para extração de petróleo e produção de etanol e para o o ciclo de energia elétrica etc.

Ameaças
Há desafios decorrentes da abundância de recursos. Primeiro, a ameaça de compra de terra e do acesso a energia e a metais pela China e pelas outras potências. Se deixarem, eles compram todo o território nacional.

Segundo, a pressão que o aumento do uso de recursos naturais exerce sobre a natureza e a sustentabilidade.

Terceiro, a absorção pelo setor privado ou por interesses públicos menores dos ganhos originados pela valorização dos preços dos bens e serviços baseados em recursos naturais.

Lamento que a Vale tenha sido privatizada sem um resguardo mínimo dos interesses nacionais. Queremos bem mais do que apenas exportar ferro e gerar lucro para os acionistas.

Infraestrutura
É um motor do crescimento, cuja potência depende das atividades que desencadeia no seu entorno. Desde coisas relativamente simples, como a "conteinerização" de cargas ferroviárias, até sofisticadas, como a produção de sistemas eletrônicos para o trem-bala.

FOLHA.com
Leia a entrevista completa
www.folha.com/no1033471

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