Europa segue modelo americano e vai injetar € 1,1 tri na economia
BC do bloco de 19 países vai comprar títulos dos governos para combater deflação e PIB fraco
Disparidades entre os membros e restrições da Alemanha são ameaças para o sucesso do plano de estímulo
Após seis anos de medidas fracassadas, o Banco Central Europeu se rendeu ao relativo sucesso da política americana de estímulos e decidiu injetar mais de € 1 trilhão para estimular a economia, que passa pela primeira deflação em cinco anos e cuja estagnação pode passar de 2020.
O BC da zona do euro vai comprar, a partir de março, € 60 bilhões mensais em títulos de dívida dos governos e de agências europeias de baixo risco de calote. Até então, o foco eram corte de juros, austeridade fiscal e socorro a bancos para viabilizar o crédito.
A medida vai durar ao menos até setembro de 2016, somando € 1,1 trilhão (cerca de metade do PIB brasileiro). Porém, Mario Draghi, presidente do BCE, abriu as portas para que o programa prossiga caso a inflação não se aproxime da meta de 2% --ficou em -0,2% no mês passado.
Além do problema da deflação (um sintoma de fraqueza econômica), os males da zona do euro incluem uma taxa de desemprego de 11,5% --mas que chega a cerca de um quarto da população na Grécia e na Espanha-- e um PIB que cresceu apenas 0,2% no terceiro trimestre e que ainda não se recuperou da crise iniciada sete anos atrás.
Considerada inflacionária, a ação tem como efeitos colaterais a desvalorização do euro (fala-se que a paridade entre euro e dólar deve voltar até o fim de 2016; a moeda recuou 2,45% a US$ 1,13, a menor cotação em 11 anos), além do fomento a bolhas (a valorização de commodities e de moedas emergentes é atribuída ao dólar barato até 2014).
Por outro lado, os EUA voltaram a crescer e a exportar com força a ponto de retirar os estímulos no final de 2014, dois anos após adotar sua terceira versão do programa.
DÚVIDA DE RECEITA
Há dúvidas se o BCE terá sucesso com a receita americana e quais serão as consequências para países emergentes, como o Brasil.
A desvalorização do dólar, após a adoção pelos EUA do seu programa de estímulo em 2012, fomentava a alta de commodities, moedas e ativos em todo o mundo. O euro não tem o alcance de influência da moeda americana.
Também dificultam as disparidades os 19 países da zona do euro, além da oposição alemã, que considera a medida distribuição de riqueza em favor de países menos previdentes, como Grécia e Itália.
Nos EUA, as empresas se financiam vendendo títulos no mercado de capitais, enquanto na Europa vão buscar dinheiro nos bancos, o que pode reduzir a efetividade do dinheiro barato abundante.
"Estamos vivendo um período de experimentalismo. Mas o BCE surpreendeu e aumentou o apetite por risco", disse Daniel Cunha, da XP Securities, em Nova York.
"[As medidas] vão ajudar a Europa. Tem-se uma falsa sensação de que isso pode estimular novamente a demanda por emergentes, porém existe uma enorme faxina a ser feita [nesses países]", disse Jason Vieira, economista da XInfinity Invest.