Empresa já admite suspender o pagamento de dividendos
A depender do ajuste que a Petrobras terá de fazer em seu balanço para eliminar o efeito da corrupção, a empresa poderá suspender o pagamento de dividendos referentes a 2014, pela primeira vez em pelo menos 20 anos.
O diretor de finanças da Petrobras, Almir Barbassa, afirmou, que a empresa poderá rever a política de remuneração de acionistas, "em caso de estresse financeiro".
"É uma alternativa que poderá ser considerada, dependendo da avaliação da situação financeira", afirmou, complementando que a hipótese "ainda não está colocada, mas poderá sê-lo".
Barbassa chegou a falar, em tese, na situação de a empresa não ter lucro, sempre no contexto de remuneração do acionista.
No ano passado, a Petrobras distribuiu R$ 8,7 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio, remunera- ção que também depende do resultado financeiro. Em 2013, o pagamento foi de R$ 5,8 bilhões.
"Existe a alternativa de, não tendo lucro, naturalmente, não declarar dividendo. Tendo lucro, declarar dividendo e não pagar. Eu posso jogar para o próximo ano ou coisa assim", disse Barbassa.
Caso a Petrobras suspenda os dividendos, o maior prejudicado será a União.
Sua participação como controladora da estatal garantiu-lhe o recebimento de cerca de R$ 2 bilhões em dividendos em 2014, referentes a 2013, e R$ 1 bilhão no ano anterior.
O desconto dos pagamentos de propina que foram lançados indevidamente como investimentos é uma exigência do auditor independente da Petrobras, a PwC, para auditar seu balanço.
O balanço do terceiro trimestre, divulgado na quarta-feira, não foi auditado porque a Petrobras não conseguiu dar baixa nos valores atribuídos a corrupção.
Barbassa diz que a empresa tem "convicção" de que poderá entregar o balanço anual auditado no prazo, que, segundo ele, poderá ser até 30 de abril, com possibilidade de estender por mais 60 dias, a depender da boa vontade dos credores de dívida da estatal.
Caso realmente a Petrobras consiga entregar o balanço auditado até o fim de junho, será obrigada a reconhecer as perdas de corrupção. E, em fazendo-o, parte significativa, ainda não identificada, será lançada como despesa --e, nesse caso, derrubará o lucro da companhia.