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Cifras&letras

Crítica EUA

Livro desmonta Obama 'venerado' da eleição de 2008

Autor mostra presidente como líder fraco em meio a equipe disfuncional

A ambiciosa agenda de mudanças de Obama é sequestrada pela facção Wall Street

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO

Sobra muito pouco do venerado Barack Obama da campanha de 2008 ao fim do livro de Ron Suskind, "Confidence Men" (Homens de Confiança, em tradução livre), publicado nos EUA, em 2011, pela editora Harper.

O livro é uma narrativa minuciosa sobre a reação da Casa Branca de Obama à hecatombe financeira que eclodiu em 2008. E o retrato que Suskind pinta não é bonito.

O presidente que se elegeu como a maior esperança de renovação da América emerge como líder fraco e hesitante, incapaz de tomar decisões firmes em meio a uma equipe disfuncional.

"Alguns assessores estão convencidos de que a inexperiência de Obama, especialmente administrativa, será sua ruína; em um momento de perigo, o presidente simplesmente não está pronto para enfrentar as exigências", diz o livro.

A ambiciosa agenda de mudanças de Obama é sequestrada pela facção Wall Street que tomou conta do governo, e a reforma do sistema financeiro acaba tímida.

No último instante da formação do governo, ele preteriu o chamado "Time A", que iria revolucionar a regulamentação do sistema financeiro e assustava a banca.

Era gente como o ex-presidente do Fed (o banco central americano) e decano das crises Paul Volcker, que pregava uma separação total entre os negócios de tesouraria dos bancos e os dos clientes.

Cercou-se de veteranos do governo Clinton e seguidores do ex-secretário do Tesouro Robert Rubin, que defendiam "ações delicadas para amparar um sistema bancário frágil". Tim Geithner, escolhido para o Tesouro, havia sido presidente do Fed de NY, quando ganhou intimidade de presidentes de bancos.

Larry Summers, escolhido para chefiar o Conselho Econômico Nacional, supervisionou a Lei Gramm-Leach-Bliley, de 1999, que essencialmente demoliu a Lei Glass- Steagall, da Grande Depressão, que impunha a separação entre bancos de varejo e bancos de investimentos.

Essa desregulamentação está por trás de grande parte dos abusos que levaram à crise de 2008.

Assim, as promessas de Obama de refundar o sistema financeiro deram lugar a uma política "hipocrática", como definia seu maior defensor, Geithner, de, "antes de tudo, não faça mal". Com isso, as medidas de maior impacto foram engavetadas.

Em um dos trechos mais polêmicos, Suskind narra como Geithner teria feito "corpo mole" em relação à ordem de Obama, no início de 2009, para reestruturar bancos "grandes demais para quebrar", como o Citigroup.

O secretário do Tesouro é caracterizado por um banqueiro como "nosso homem em Washington", por ter evitado mudanças mais drásticas no sistema financeiro.

BASTIDORES

O texto de Suskind é truncado e é bom sempre ter um pé atrás com o chamado "jornalismo de acesso", cultivado com afinco pelo autor. Basicamente, quem conta muitas histórias de bastidores, sempre com a proteção do anonimato do "off the record", sai bem na fita.

Já quem se nega a dar muito acesso ao jornalista fatalmente acaba como vilão na história, porque seu lado não é abordado. Mas trata-se de um retrato valioso.

Fica claro que o presidente Obama, contrariando a frase de seu todo-poderoso primeiro chefe de gabinete, Rahm Emanuel, "deixou uma crise ser desperdiçada".

"Estávamos em um momento de grande vulnerabilidade, o presidente poderia ter exigido que fizéssemos qualquer coisa, nós teríamos obedecido; mas ele não pediu nada -acho que temos de agradecer a Tim (Geithner) por isso", diz um banqueiro citado no livro.

Ou seja, o presidente americano perdeu a chance de exigir mudanças profundas nos bancos, que potencialmente evitariam a próxima crise financeira.

CONFIDENCE MEN

AUTOR Ron Suskind

EDITORA Harper/HarperCollins

QUANTO US$ 29,99 (528 págs.)

AVALIAÇÃO Bom

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