Na China, churrasco brasileiro tem sabor australiano
Mesmo sem poder servir carne bovina do Brasil, rede de churrascaria aposta no prato cheio e ganha mercado no gigante asiático
Uma marca brasileira não para de crescer na China. Depois de 17 anos ensinando aos chineses o que é picanha, pão de queijo e feijoada, a rede de churrascarias Latina se prepara para abrir cinco restaurantes neste ano e mais cinco em 2016, embalados pelo crescimento do consumo e do setor de serviços na segunda maior economia do mundo.
Mesmo sem poder servir carne bovina do Brasil, barrada na China desde 2012 por questões sanitárias, o negócio tem crescido entre 15% e 20% ao ano. A picanha do Latina vem da Austrália, mas isso não freou a expansão da rede brasileira, que no ano passado teve faturamento de 75 milhões de yuans (R$ 35,8 milhões), segundo os sócios.
A previsão deles é que o valor aumente 60% em 2015.
Para Jun Taichi, um dos sócios da WD, que controla a rede de churrascarias, servir carne australiana não afetou a imagem dos restaurantes.
"A maioria do público chinês nunca comeu carne dessa forma, por isso não tem termo de comparação", diz Jun, 39, que nasceu no Rio.
Segundo ele, o que atrai os chineses é a experiência brasileira, não importando se a picanha for australiana. A fartura do sistema de rodízio ajuda. "O que o chinês gosta é de prato cheio", afirma.
Essa experiência poderá se tornar mais brasileira em breve, caso seja concretizada a expectativa de reabertura do mercado chinês para a carne bovina do país.
Após mais de dois anos de embargo e uma tortuosa negociação, está tudo pronto para que a liberação seja oficializada durante a visita ao Brasil do premiê chinês, Li Keqiang, que começa no dia 19.
O Brasil teve que ceder às exigências dos chineses para que o novo protocolo sanitário fosse finalizado e agora espera que a promessa de fim do embargo seja cumprida.
Embora o embargo não tenha freado o sucesso da Latina, Jun está na expectativa.
"Claro que ajudará no nosso marketing se pudermos servir carne brasileira."
Além disso, lembra ele, a reabertura do mercado permitiria a importação de cortes de carne bovina apreciados no Brasil e que atualmente não são disponíveis na China, como o cupim.
Ironicamente, a experiência brasileira do churrasco foi levada à China por um japonês, o pai de Jun. Foi ele quem levou o conceito à China há 17 anos, após fazer sucesso vendendo sushi no Rio e churrasco no Japão. Hoje o grupo tem 300 funcionários na China (20 brasileiros) e conta com 12 restaurantes, oito churrascarias e quatro pizzarias.
"Nossa avaliação é que podemos chegar a 40", afirma Sérgio Madalozzo, um dos três sócios da holding, além da família Taichi e de uma sócia chinesa.