Caixa segura balanço devido a exigências de auditores e do BC
Regulador e auditor querem que banco reconheça risco maior de crédito e aumente provisões
Banco Central também acusou o mesmo problema; auditores pedem novos ajustes para não fazer ressalva
Exigências do Banco Central e da auditoria Ernst Young levaram a Caixa Econômica Federal a atrasar a divulgação do balanço do primeiro trimestre em mais de 15 dias. O balanço era aguardado para meados de maio.
O BC e os auditores exigiram mudanças em relação à classificação de risco dos empréstimos do banco.
Essas carteiras de crédito são classificadas em nove níveis: quanto maior o risco, maior deve ser a provisão para perdas (reserva de recursos para eventual calote).
A porcentagem de reserva obrigatória varia de 0 a 100%. Segundo o BC e a auditoria, a Caixa atribuiu a algumas carteiras risco menor que o recomendado. O banco terá agora que mudar a classificação e, assim, reservar provisões maiores, o que deve reduzir o lucro no período.
O mesmo fenômeno --lucro reduzido por reservas para casos de inadimplência-- ocorreu nos resultados apresentados pelo Banco do Brasil e pelos bancos privados.
Uma das linhas que mais exigem provisões é a dos financiamentos do Minha Casa Melhor, de compra de móveis e de eletrodomésticos com juros subsidiados, suspenso em fevereiro. Lançado em junho de 2013, permitia empréstimos de até R$ 5.000 com juros de 5% ao ano.
Outra linha com inadimplência elevada é a de compra de material de construção, cujos desembolsos também foram reduzidos.
Também chamou a atenção o aumento dos gastos da Caixa com marketing, o que levou à desistência de novos patrocínios, especialmente a times de futebol.
A Folha apurou que a pendência com o BC já foi solucionada, mas as exigências dos auditores da Ernst Young ainda precisam de pequenos ajustes contábeis. A expectativa é que o impasse seja superado na próxima semana e que o balanço saia sem ressalvas dos auditores.
O banco chegou a marcar uma data indicativa para divulgar os resultados no dia 20, mas não houve avanço nos entendimentos com os auditores. Como a Caixa não tem ações na Bolsa, não precisa cumprir a exigência da Comissão de Valores Mobiliários de divulgar resultados até 45 dias após o fim do trimestre.
Apesar do atraso, assessores relatam que o clima no banco é de tranquilidade e que todas as pendências estão sendo resolvidas.
No ano passado, a Caixa teve lucro de R$ 7,1 bilhões, resultado 5,5% maior do que em 2013. A inadimplência subiu de 2,3% para 2,56% de 2013 para 2014, refletindo o forte crescimento nos empréstimos, que somaram R$ 605 bilhões. O ritmo de expansão do crédito, no entanto, desacelerou de 36,8% para 22,4% de 2013 para 2014.
Procurada, a Caixa informou que o balanço está em fase final de aprovação, seguindo os trâmites usuais. A previsão é que a divulgação ocorra na próxima semana. A Ernst Young disse não poder comentar, por exigência do contrato com a Caixa.