Vagas não acomodam procura por emprego
Geração de postos é insuficiente para atender a mais interessados em trabalhar; taxa de desemprego vai a 8% em abril
Após quase uma década de aumento de carteiras assinadas, crise deste ano amplia parcela de trabalhador informal
A taxa de desemprego no trimestre encerrado em abril mostrou que houve desaceleração na criação de vagas, mais pessoas à procura de emprego, piora na qualidade do trabalho e tendência de novas altas do indicador.
Segundo os dados da Pnad Contínua, divulgada nesta quarta-feira (3) pelo IBGE, o desemprego bateu 8% no trimestre de fevereiro a abril.
Foi a maior taxa da série histórica, iniciada em 2012. Houve aceleração em relação aos 7,1% de igual período do ano passado e aos 6,8% do trimestre até janeiro.
Na esteira da renda que cresce menos que a inflação e aperta o orçamento familiar, mais pessoas entraram na fila do emprego e a geração de vagas foi insuficiente.
Foram criados 629 mil postos de trabalho, enquanto o número de desocupados (os que procuram trabalho sem encontrá-lo) aumentou em 985 mil pessoas.
Esse grupo cresceu 14% no intervalo de um ano.
Ainda que o saldo na geração de vagas tenha sido positivo, meio milhão de postos com carteira assinada foi fechado no setor privado.
Na outra ponta, 1 milhão de pessoas passaram a exercer a função de trabalhador por conta própria, categoria não protegida pelas leis trabalhistas --e mais vulnerável às mudanças econômicas.
"O mercado brasileiro vem de quase uma década de crescente formalização e neste ano houve uma migração para empregos associados a menos direitos trabalhistas", disse Sarah Bretones, economista na MCM Consultores Associados.
COMÉRCIO NA BERLINDA
Abril é tradicionalmente um mês em que o desemprego desacelera. Os temporários de final de ano já foram dispensados e a curva do desemprego começa a melhorar. A taxa deste ano, porém, continuou subindo.
Segundo o economista da RC Consultores Marcel Caparoz, o movimento indica tendência de alta nos próximos meses, principalmente com possíveis demissões no setor de comércio e serviços, os que mais empregam no país.
A geração de vagas no comércio não ficou negativa no intervalo anual investigado pela Pnad. Mas o Caged, indicador do Ministério do Trabalho que monitora somente o mercado formal, apontou, em abril, fechamento de 19 mil vagas, no pior resultado desde 1999.
Desde o Natal, que teve o pior desempenho em 12 anos, o varejo acumula derrotas em suas principais datas: a Páscoa teve as piores vendas desde 2007, e o Dia das Mães registrou a primeira queda em 13 anos.
"A demissão é sempre a última opção do empregador, principalmente porque é caro demitir no Brasil. Com a manutenção do cenário ruim, a tendência é de aceleração do desemprego até o final do ano."