Análise
Cenário pode acelerar mudança cultural no mercado de trabalho
Decisão certa em momento econômico difícil, a ampliação dos direitos trabalhistas das empregadas domésticas pode levar a aumento de desemprego e queda de renda da categoria.
A medida garante benefícios que a categoria, injustamente, não recebia, mas aumentará o custo dessa mão de obra para seus empregadores em plena recessão.
Nos anos recentes de bom desempenho do mercado de trabalho, muitas domésticas buscaram outros postos no setor de serviços.
Parece ter havido também um aumento no número de mulheres que abandonaram seus empregos por conta do maior custo de trabalhar fora, que inclui tanto preços de passagens como fatores não mensuráveis como o maior tempo gasto no transporte.
A deterioração recente e rápida no mercado de trabalho --com queda ou perda de renda das famílias chefiadas por maridos-- tende a forçar essas mulheres a voltar a procurar empregos domésticos.
A tendência ainda timidamente notada nos dados nacionais já aparece de forma mais marcante na região metropolitana de São Paulo.
Dados do IBGE mostram que o número de empregados domésticos como fatia do total de trabalhadores ocupados em São Paulo saltou de 5,8% em abril de 2013 para 6,7% no mesmo mês deste ano, atingindo o patamar mais alto em 31 meses.
Esse retorno ocorre, no entanto, em um momento em que o custo da mão de obra doméstica subirá, com os novos direitos, e as famílias empregadoras enfrentam aperto de renda com a crise.
Empregadores tendem a substituir suas funcionárias por outras com salários menores ou até passar a prescindir dessa mão de obra.
MUDANÇA
O lado positivo disso pode ser uma aceleração do desejável declínio estrutural do trabalho doméstico no Brasil.
Isso dependerá de um ajuste nas relações de trabalho, com empresas mais dispostas a oferecer jornadas flexíveis e a valorizar seus profissionais pela qualidade do trabalho e não pelo número de horas passadas nos escritórios.
Mulheres e homens teriam mais tempo para cuidar de suas próprias casas e filhos.
Mas um desafio do país, nesse possível novo cenário, é acelerar a melhora da qualidade da educação.
Com isso, futuras gerações de mulheres de classes menos favorecidas poderiam, com a eventual recuperação econômica, conseguir ocupações mais valorizadas.