Argentina e Brasil renovam por 1 ano acordo de comércio de carros
Acerto expiraria na próxima semana e foi refeito sob as mesmas bases atualmente vigentes
Brasileiros preferiam duração de 2 anos; argentinos queriam flexibilizar regras para comprar peças asiáticas
Brasil e Argentina decidiram prorrogar o atual acordo automotivo, sem modificação, por mais um ano. O acordo regula o comércio de veículos e peças entre os dois sócios do Mercosul.
Segundo a Folha apurou, a prorrogação já foi enviada para registro na Aladi (Associação Latino-Americana de Integração) e deve ser regulamentada no Brasil em breve por meio de um decreto.
O acordo em vigor expira na terça e, se não houvesse entendimento até lá, passaria a valer o livre-comércio. Desde a criação do Mercosul, as trocas comerciais no setor automotivo foram reguladas com exceção de breves períodos.
A decisão de prorrogar o acordo, sem modificações, foi tomada por causa do clima político na Argentina. O país terá eleições no fim do ano, e a expectativa é que ocorra uma importante mudança.
Os Kirchner vão deixar o poder após 13 anos. Cristina Kirchner --que sucedeu o marido, Néstor (já morto)-- terá dificuldade em eleger o candidato de sua preferência.
Por causa desse cenário, negociadores brasileiros e argentinos optaram por deixar para o novo governo as decisões sobre mudanças estruturais no comércio. O setor automotivo representa mais da metade do comércio entre Brasil e Argentina.
No entanto, prevaleceu a posição da Argentina de renovar o acordo por apenas um ano. O Brasil defendia a prorrogação, sem alterações, por dois anos, para dar mais previsibilidade ao setor.
O setor automotivo enfrenta grave crise em ambos os países, com forte queda nas vendas, excesso de capacidade ociosa e demissões.
Com essa prorrogação, continua valendo o sistema "flex", que estabelece que, para cada US$ 1 exportado, o Brasil tem direito de importar US$ 1,5.
Também não muda a regra de que um veículo precisa ter 60% de suas peças produzidas no Mercosul para transitar pelas fronteiras sem pagar tarifas de importação.
A Argentina vinha defendendo uma flexibilização desse limite para vender ao Brasil carros com mais peças chinesas e coreanas. O objetivo era baratear os veículos argentinos e incrementar as exportações ao país.
Outro pleito do país vizinho é que as peças argentinas tenham o mesmo tratamento que as nacionais no Inovar Auto, programa brasileiro que exige etapas de produção no Brasil para abatimento de imposto.
UNIÃO EUROPEIA
As negociações entre os dois países quase travaram. Na última reunião, o Brasil comunicou a Argentina que voltaria a negociar um acordo de livre-comércio com a União Europeia.
Os argentinos são contra e ameaçaram segurar a renovação do acordo automotivo, mas desistiram. A perspectiva de livre-comércio amedronta o vizinho, que teme perder fábricas e empregos.