Petrobras propõe cortar 37% do investimento
Conselho sinaliza que aprovará plano mais enxuto, em razão dos desafios decorrentes da queda do petróleo e da corrupção
Eduardo Cunha diz que Congresso deve aprovar fim da obrigatoriedade da estatal de participar da exploração do pré-sal
Disposta a dar um recado de austeridade ao mercado financeiro, a diretoria da Petrobras propôs ao conselho de administração da empresa nesta sexta (26) um corte de 37% nos investimentos previstos no plano de negócios para o período de 2015-2019.
O Palácio do Planalto foi informado do resultado da reunião e espera que a nova estimativa de investimentos --mais realista-- ajude a aliviar o caixa da empresa.
Segundo a Folha apurou, o conselho pediu alguns ajustes pontuais no plano, mas sinalizou que aprovará a nova conta neste patamar.
Em relação ao plano de negócios anterior --de 2014-2018, que alcançava US$ 220,6 bilhões--, o recuo nos investimentos deve ficar próximo de US$ 90 bilhões, conforme a Folha apurou. Só neste ano, a diminuição nos investimentos será próxima de 30%.
A ideia da cúpula da Petrobras é ter um plano de negócios mais enxuto em razão das dificuldades enfrentadas com a queda do preço do petróleo e com os desafios financeiros decorrentes do escândalo de corrupção.
Os diretores estimavam, na semana passada, cortes na faixa de 30%. Havia, ainda, cenários de reduções mais severas, como de 40%, e outros mais amenos. Prevaleceu, segundo a Folha apurou, o patamar capaz de enxugar mais o nível de endividamento.
PRÉ-SAL
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que o Congresso deve aprovar o fim da obrigatoriedade da participação da Petrobras na exploração de áreas do pré-sal. Em entrevista à imprensa estrangeira nesta sexta (26), no Rio, ele classificou a regra como um erro que tem de ser corrigido.
Pela lei do setor, aprovada em 2010, a Petrobras é obrigada a ter uma participação de, ao menos, 30% nos campos do pré-sal, além de ser a operadora (empresa que comanda o projeto) das áreas.
"A obrigatoriedade [de participação] da Petrobras não só cria dependência. A Petrobras não tem condições de arcar com todo o investimento necessário. Não tem razão de prender esse processo em razão da obrigatoriedade", afirmou Cunha à Folha.
Segundo ele, essa alteração pode receber o apoio do governo. O projeto que prevê a alteração da partilha é de autoria do senador oposicionista José Serra (PSDB-SP). O projeto está na pauta de votação no Senado.
Cunha afirmou que, se aprovado, terá prioridade na Câmara --mas atrás da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da maioridade penal, do segundo turno das votações da reforma política e de alterações da lei eleitoral.
PARTILHA E CONCESSÃO
Além de se declarar favorável ao fim da obrigatoriedade, Cunha defendeu também a mudança do regime de exploração do pré-sal para o regime de concessão. Mas afirmou que a maior probabilidade é aprovar somente o fim da obrigatoriedade na exploração do pré-sal.
"Sou a favor da mudança do regime de partilha [para concessão]. Mas não sei se isso seria aprovado. A questão da obrigatoriedade da Petrobras é mais fácil. Até o governo vai acabar concordando. O outro tem uma luta maior."
No regime de concessão, o petróleo extraído é da empresa que explora o campo. No regime de partilha, o petróleo pertence ao Estado, que remunera a petroleira com parte da produção.