Análise crise grega
Conflito político se agrava, economia para
Colapso pode começar nesta segunda se o Banco Central Europeu suspender ajuda financeira aos bancos gregos
O colapso da Grécia pode começar hoje, caso o BCE (Banco Central Europeu) desligue os aparelhos que mantêm vivos os bancos gregos. Pode ser que a indefinição se arraste até dia 20, quando o governo grego deve pagar € 3,5 bilhões que não tem ao BCE. Discutia-se ontem até uma "saída organizada" da Grécia, com ajuda humanitária e auxílio financeiro temporário a bancos e governo.
Mas ninguém sabe como abrir fresta mínima no beco sem saída onde estão o governo de esquerda do Syriza e a União Europeia. As posições políticas se tornaram mais extremadas e a situação econômica muito mais grave nos últimos dez dias, desde a convocação do plebiscito que deu talvez vitória de Pirro ao premiê Alexis Tsipras.
Sem dinheiro extra do BCE, os bancos gregos não podem reabrir. Sem o crédito ainda restante, estarão quebrados, a não ser que o governo grego tome medidas heróicas para evitar o desastre imediato: confisco parcial de depósitos dos clientes e/ou injeção de dinheiro grego (que não pode criar euros), com o que a Grécia estaria logo fora da zona do euro.
Caso a Grécia não pague o que lhe deve no dia 20, em termos apenas técnicos o BCE não pode mais dar crédito à banca grega. Fim.
Parecia ontem mais provável que o BCE não adotaria decisão drástica em sua reunião marcada para hoje. Esperaria decisão política, praticamente nas mãos de Angela Merkel, chanceler alemã, que se encontra hoje com o presidente francês, François Hollande (aliado restante da Grécia, com os italianos).
Porém, no final de semana, a elite política e econômica da Alemanha deixou claro que a Grécia deve sair, a não ser que se renda ao pacote econômico rejeitado faz dez dias. Quase todos os ministros de finanças europeus ainda defendem um ultimato.
Tsipras disse ontem que vai negociar, mas que nenhum acordo será possível sem perdão de dívida e empréstimo novo, recomendado até pelos economistas do FMI, na sexta-feira (3). Mas, no curto prazo, um talho na dívida grega não é o maior dos problemas.
Aceitar acordo nos termos da União Europeia implica aceitar recessão adicional e abandono do programa do Syriza. Isto é, aceitar mais sofrimento e, em tese, derrota política ou racha partidário. Tsipras recorreu ao plebiscito também porque a ala esquerda do Syriza rejeitaria o acordo com os credores.
Do lado da União Europeia, render-se ao Syriza não faz sentido. O impasse se deveu, do ponto de vista político, à decisão da elite europeia de matar no nascedouro movimentos "antiausteridade" e "antiestablishment" europeu.
Isto é, tratava-se de evitar que partidos de esquerda pela Europa se inspirassem em um vitória do Syriza nas negociações. Mais: de evitar revoltas contra os partidos de centro que dominam os governos dos países da eurozona (por "bancar os gregos malandros"); de evitar o fortalecimento de partidos antieuropa em si ou antieuropa tecnocrática.
Ainda que se negocie, a Grécia segue desmoronando. Ontem de noite, reunião de emergência tratava dos bancos, que estão ficando mesmo sem cédulas, para não dizer fundo bastante, para os saques de € 60 por dia, por cabeça. A Grécia está parando.