O diplomata
A atual tragédia grega e o seu possível desfecho trágico
No século quinto a.C., Sófocles e Ésquilo criaram adaptações teatrais de mitos gregos populares. Naquela época, não havia medo de "spoilers". Saber que Édipo estava condenado a matar seu pai e casar com sua mãe inflava o suspense em vez de neutralizá-lo.
Dois milênios e meio depois, esse legado dramático ainda vive. Saber qual é o destino da crise econômica grega não torna a história menos dramática ou interessante.
O pano de fundo da atual tragédia grega é conhecido: a criação do euro possibilitou acesso facilitado ao crédito. Devido a regras comuns de estabilidade macroeconômica, esperava-se que o risco de emprestar dinheiro aos países da união monetária fosse similar. Mas, em 2009, revelou-se que o deficit público da Grécia havia sido, por quase uma década, maior do que o permitido pelas regras europeias. Devido à baixa arrecadação e à alta dívida, o risco de calote era iminente.
Sem acesso a financiamento, o governo grego teria que ajustar as contas de um ano para o outro. Preferiu aceitar um empréstimo de € 110 bilhões. Mas o socorro veio atrelado a exigências de reformas e disciplina fiscal.
Na política, os custos da austeridade são sempre altos. Reformas no mercado de trabalho, por exemplo, que causem queda nos salários e demissões, têm forte resistência.
Realizar esses investimentos geralmente é consequência de um líder político corajoso ou de um eleitorado que compreende os custos de adiar escolhas difíceis. Liderança corajosa é rara. Mas também é raro um eleitorado comprometido. Ninguém quer perder o emprego, a poupança ou a ajuda do Estado.
Hoje, seis anos depois do início da crise, um em cada quatro gregos está desempregado. O PIB recuou 25%. A dívida pública estabilizou-se em 177% do PIB --o que demandará mais disciplina fiscal. Mas a paciência dos gregos com as medidas de austeridade parece ter se esgotado. Infelizmente, não haveria como fugir do destino. Cortado o financiamento externo, o governo ficaria sem recursos e teria que viver somente da arrecadação. A austeridade é, portanto, inescapável.
As clássicas tragédias gregas tinham desfechos cruéis. Confrontado com seu destino, Édipo fura os próprios olhos e abandona Tebas. Em um ato de autoflagelo, a Grécia pode abandonar o euro. Com a imposição de nova moeda, haveria corridas para saques e fuga de divisas. A poupança perderia, repentinamente, valor substancial. A produção e o emprego cairiam mais. Moratória, quebradeira, inflação e caos: o desfecho trágico seria, enfim, revelado --para a surpresa de poucos.