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Minha História Leonardo Silva, 39

Inventor por acaso

Tetraplégico aos 24 anos após fraturar a coluna, o paranaense Leonardo Silva viu na fisioterapia uma chance de negócios; criou equipamentos para reabilitação com tecnologia nacional e ganhou o título de empreendedor inovador no Estado

CAMILA FUSCO
DE SÃO PAULO

RESUMO O paranaense Leonardo Silva aprendeu informática logo na infância e, aos 20 anos, era referência nacional em software. Sofreu um acidente e ficou tetraplégico. Na recuperação, sentia falta de tecnologia para acompanhar a evolução dos pacientes. Por isso, criou sistemas inovadores na área. "Há quem ache que os projetos têm a intenção de me fazer voltar a andar. Esse nunca foi o meu objetivo."

Desde pequeno, sempre fui curioso, daqueles de fuçar em como as coisas funcionam. Quando dizia que não sabia, minha mãe me mandava pesquisar e aprender.

Esse "corra atrás" marcou muito e me encorajou a estudar informática ainda cedo.

Comecei a trabalhar com 14 anos na Caixa Econômica Federal e mesmo muito jovem, aos 20, virei referência nacional em software. Após me formar em ciências da computação, iniciei mestrado em inteligência artificial e aos 23 fui para São Paulo ajudar no início de uma empresa americana no país.

Tranquei o mestrado e abracei a carreira promissora. Em novembro de 1996, fui com amigos para Bertioga, litoral norte paulista, e lá sofri o acidente em um mergulho. Tentei levantar, tentei abrir os olhos, esticar os braços, mas não consegui.

Tive fraturas nas vértebras C5 e C6, passei 49 dias na UTI e fiquei tetraplégico. Por seis meses estive em hospitais de Santos, Brasília e Curitiba e reaprendi até a respirar.

Fazia reabilitação cinco vezes por semana e comecei a observar as técnicas de tratamento. Uma coisa me incomodava: não havia tecnologia disponível para avaliar a evolução dos pacientes.

Após minimamente recuperado, voltei ao mestrado. Mudei minha área de pesquisa para engenharia biomédica. Em 1997, comecei a pesquisar sistemas de eletroestimulação, capaz de fazer a leitura do movimento de uma pessoa caminhando e o reproduzir num paraplégico.

Em 2002 fui para a Áustria conversar com especialistas na área e recebi um convite para trabalhar lá. Sabia que, se aceitasse, meu projeto não seria brasileiro. Decidi voltar e, mesmo com todas as dificuldades impostas aos empreendedores, resolvi que ele seria um projeto nacional.

Em 2008, depois de parcerias com outras empresas e de bolsas de pesquisa do CNPq, nasceu a empresa BioSmart e o BioFeed, que é um sistema de apoio ao terapeuta usado para avaliação de pacientes ou atletas. Ele lê a amplitude do movimento das pessoas, mostra a informação no computador e a evolução do tratamento. Com dificuldade, investi R$ 300 mil e ele entrou em produção. Já registrei a patente do aparelho.

O segundo produto já está pronto. É o MovSmart, direcionado a academias de ginástica. São sensores acoplados aos equipamentos que mostram o esforço do aluno e ajuda a evitar sobrecarga de exercícios.

Tudo pode ser lido por computador, iPhone e iPad. É um mercado com mais de R$ 1 bilhão de potencial.

Com o MovSmart, ganhei o prêmio de empreendedor inovador do Paraná do Centro Internacional de Inovação. Mas os desafios não são poucos. Há muitos editais para desenvolvimento, mas eles não contemplam colocação dos projetos no mercado. Ao mesmo tempo, os fundos de capital de risco querem empresas que já faturam.

Também há o preconceito. Há quem ache que os projetos têm a intenção de me fazer voltar a andar. Esse nunca foi o meu objetivo, porque sempre soube que a maioria dos eletroestímulos só serve para paraplégicos. Eu desenvolvi tudo isso para o mercado. E não pretendo parar. Tenho projetos para serem lançados até 2020.

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