Fazendas alojavam trabalhadores junto com porcos no Piauí
Órgãos de fiscalização vão responsabilizar também indústria que usa cera de carnaúba
Ao menos 20 trabalhadores, entre eles 4 adolescentes, foram encontrados em alojamentos junto a porcos no município de Luís Correia, no litoral do Piauí.
Eles atuavam na extração da palha da carnaúba, cuja cera é usada como matéria-prima pelas indústrias cosmética e de eletroeletrônicos.
Entre 12 propriedades rurais inspecionadas, 11 tiveram irregularidades apontadas. Trabalhadores eram mantidos em situação análoga à escravidão, segundo a Procuradoria do Trabalho.
Foram encontrados trabalhadores sem alojamento adequado, sem carteira assinada, sem equipamentos de proteção individual e sem condições mínimas de higiene, saúde e segurança.
Foram abertos inquéritos em todos os casos. A intenção dos órgãos de fiscalização é responsabilizar toda a cadeia produtiva, desde quem arrenda as terras até a indústria que usa a cera.
Em Luís Correia, os porcos dividiam o alojamento com os trabalhadores, sob as redes. De acordo com os fiscais, o sítio não tinha banheiro para os trabalhadores, a maioria vinda do Ceará.
Embalagens de agrotóxicos eram reutilizadas para armazenar água, os alimentos não eram refrigerados e as refeições eram feitas perto de fezes de animais.
Segundo o Ministério Público do Trabalho, a extração da palha da carnaúba emprega cerca de 12 mil trabalhadores no Piauí.
Os trabalhadores recebem diárias de R$ 30 e R$ 60 e correm risco de acidentes e amputação de partes do corpo como braços e pernas.