Autopeças é a 1ª do ABC a aderir a plano contra desemprego
Fabricante de molas Rassini fez acordo para evitar demissão e vai reduzir salários e jornada em 15%
Metade da perda salarial será paga pelo governo; 7 empresas da região negociam acordo similar, diz sindicato
A empresa Rassini, fabricante de molas de suspensão para veículos, é a primeira do ABC, região berço do PT e base eleitoral histórica do partido, a aderir ao PPE (Programa de Proteção ao Emprego).
O plano prevê a redução de jornada e salário para evitar demissões no país e é defendido pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
O acordo, aprovado em assembleia nesta quarta (5), prevê que a Rassini reduza a jornada e os salários em 15% dos 550 funcionários de São Bernardo do Campo. Metade da perda salarial (7,5%) será paga pelo governo, por meio de recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).
Havia expectativa de que duas montadoras da região, a Mercedes-Benz e a Volks, fossem as primeiras a aderir à medida, mas foi no setor de autopeças que o acordo foi concretizado de fato.
A redução na Rassini vai durar quatro meses, pode ser prorrogada e a empresa fica proibida de fazer demissões, sem justa causa, dos empregados com jornada reduzida.
Considerando o salário médio de cerca de R$ 4.000, segundo informou o sindicato local, a diminuição mensal na renda será de R$ 300.
Maria Regina Gasparini, gerente de RH da Rassini, diz que, desde o início do ano, a empresa discutia alternativas para evitar a dispensa de 70 empregados considerados excedentes na fábrica.
"A crise está severa no setor. A queda na produção é de 50% no segmento de caminhões e ônibus e de 35% no de veículos. Estávamos discutindo com o sindicato medidas e esperando a criação do programa desde janeiro."
Em abril e maio deste ano, antes mesmo de o PPE ser lançado, a empresa já havia reduzido jornada e salários em 5%, em acordo com os trabalhadores, além de ter concedido férias coletivas.
"Demitir tem custos, mas significa mais que isso. É perder capital humano, conhecimento e treinamento feito em cada funcionário. O acordo beneficia os dois lados."
Rafael Marques, presidente do sindicato, negocia com outras sete empresas da região acordos semelhantes. "São fábricas do setor de máquinas, aço e autopeças."
O mesmo acordo aprovado por unanimidade em São Bernardo, porém, não foi negociado na fábrica da Rassini em Nova Iguaçu (RJ).
"O sindicato da região [filiado à CTB] tem por princípio não negociar a redução salarial", diz a gerente.
Desde janeiro, 187 trabalhadores foram demitidos da unidade fluminense, hoje com 500 empregados. A Folha não localizou os representantes do sindicato para comentar a as demissões.
CASOS ANTERIORES
A Grammer do Brasil, fabricante de assentos para veículos, e a Caterpillar, multinacional que fabrica máquinas, motores e veículos pesados, foram as primeiras a aderir ao PPE.
O programa permite reduzir até 30% da jornada e dos salários. O FAT complementa a renda, mas o repasse deve ser inferior a R$ 900 por trabalhador.