Mercado MPME
É pequeno mas é meu
Grupos de jovens criam empresas artesanais na produção e na gestão e abrem mão de crescer para manter controle total
O tom na administração é despojado e aliado a certa dose de improviso e muita colaboração. É desse modo que os empreendedores criativos querem gerir seus negócios, mesmo que signifique crescer menos.
"As nossas histórias são parecidas: pessoas que entendem que podem ser seus próprios patrões e administrar do modo que escolherem", diz o publicitário Kadu Nakashima, 29, da marca de carteiras Somos 55, um desses empreendimentos que envolvem a criatividade em seu processo de produção.
Para manter o controle total, esses grupos, formados majoritariamente por jovens, abrem mão de investimentos externos e de produção em grande escala.
Isso não significa, porém, que sejam empreendimentos sem fins lucrativos. Conseguir viver do negócio próprio é a meta destes pequenos empresários que, quase sempre, mantêm empregos em paralelo às atividades.
As carteiras da Somos 55, há um ano no mercado, são feitas com material reciclável por costureiras de uma cooperativa da favela Vila Suíça, em Santo André.
Os modelos custam de R$ 45 a R$ 48 e são disponibilizados no site e em lojas revendedoras. A marca prevê faturar R$ 45 mil neste ano.
Fundado há dois anos, o Clube do Bordado une a tradição da costura a temáticas pouco usuais, de cinema a vinho, passando pelo erótico.
O bordado é feito em quadros para decoração e pode ter também temas sob encomenda. Custa até R$ 250.
O clube é composto por seis mulheres. Todas com outros empregos. "A gente encara o negócio quase como uma terapia de grupo, algo que queremos que cresça, mas do nosso jeito", diz Renata Dania, 28.
Popular nas redes sociais, o clube tem uma grande clientela. Mas as sócias, por enquanto, preferem seguir num ritmo mais lento.
Elas não revelam quanto ganham, mas dizem que ficariam satisfeitas em dividir um lucro de R$ 18 mil por mês.
"Já pensamos em procurar um investidor, mas aí teríamos metas a cumprir e perderíamos nossa autonomia", diz Marina Dini, 28.
Parte da estratégia desses grupos é participar de eventos com outros pequenos produtores. Como a Fêra Féra, que une barracas de venda de vestuário, de comida e música no bairro do Sumaré.
"A colaboração é constante. Há sempre alguém que empresta uma mesa ou a máquina de cartão. Nossa proposta é a interação entre pessoas e espaço", diz o curador Renato Tizzi, 27.
REGISTRO
Focados na parte criativa do trabalho, os jovens empresários têm pouca familiaridade com os termos burocráticos do negócio.
As mulheres do Clube do Bordado tiveram de aprender cálculos sobre precificação e expectativa de ganhos para entender em que categoria de empresa elas se encaixavam.
Um MEI (microempreendedor individual) tem faturamento anual de até R$ 60 mil. Já a ME (microempresa) fatura até R$ 360 mil por ano.
"Eram muitas perguntas e cálculos sobre algo que a gente ainda não tinha ideia. O que a gente gosta é de bordar. Não foi fácil", diz Laís Souza, 28, uma das bordadeiras.
Ana Clévia Guerreiro, do Sebrae, admite que ser empreendedor não é simples.
"Mas formalizar uma empresa é o menor dos problemas e traz vários benefícios", diz. "A hora de fazer as contas sempre chega. E é melhor fazê-las logo no início."
Segundo estudo do Sebrae, microempreendedores formalizados ganham, em média, três vezes mais do que aqueles sem CNPJ.