Ferreira se licencia de conselho da Petrobras
Divergências com Aldemir Bendine, presidente da estatal, pesaram na decisão de chefe da mineradora Vale
Economista Luiz Nelson Guedes de Carvalho assume interinamente o cargo; Coutinho era o preferido de Bendine
O presidente do conselho de administração da Petrobras, Murilo Ferreira, surpreendeu o mercado ao anunciar, nesta segunda-feira (14), que está se licenciando do cargo até 30 de novembro.
À noite, a empresa informou que, após reunião extraordinária, seu conselho de administração elegeu Luiz Nelson Guedes de Carvalho para assumir interinamente a presidência do colegiado.
Carvalho foi indicado pelo acionista controlador, a União, e fica no cargo até o fim da licença de Ferreira, no dia 30 de novembro. Ele é economista formado pela USP, especialista em contabilidade e auditoria e atuou como árbitro na Câmara Internacional de Arbitragem.
Nos bastidores, o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, defendia a nomeação do presidente do BNDES, Luciano Coutinho.
O suplente e aliado de Ferreira, Clóvis Torres Junior, também pediu licença para não assumir a presidência de forma automática.
DIVERGÊNCIAS
Segundo fontes da alta administração da Petrobras, Bendine e Ferreira têm discordado em algumas questões cruciais para os planos da estatal diante da crise. Um exemplo é a lista negra de empresas investigadas na Operação Lava Jato e proibidas temporariamente de participar de licitações da estatal.
Há quatro meses, Bendine já defendeu em uma reunião do conselho a liberação de empresas desta lista. Ferreira foi contra. Alegou que o retorno das empreiteiras antes do fim das investigações seria uma desmoralização para a Petrobras, segundo relato de uma fonte próxima ao conselho. Neste primeiro embate sobre o tema, Ferreira conquistou o apoio da maioria do conselho.
Recentemente, a direção da estatal decidiu enviar às empresas da lista negra um questionário de avaliação de governança, que pode agilizar o retorno às licitações.
Ferreira também tem combatido suposta pressão política de integrantes do governo sobre o conselho de administração da BR Distribuidora, hoje composto por suplentes do conselho da Petrobras (entre eles Clóvis Torres Júnior).
A razão do atrito está relacionada à venda de combustíveis para térmicas da região Norte. O atual conselho da BR Distribuidora determinou que os pagamentos sejam feitos à vista.
O crédito às distribuidoras de eletricidade foi suspenso diante dos calotes sofridos pela petroleira com estas operações. Em 2014, Petrobras e Eletrobras fizeram um acordo para o pagamento de uma dívida de R$ 9 bilhões.
PROFISSIONALIZAÇÃO
Ferreira foi eleito presidente do conselho da Petrobras em 29 de abril, em uma tentativa do governo de mostrar a profissionalização da estatal após a crise de credibilidade com a Operação Lava Jato e os atrasos na divulgação do balanço de 2014.
Na composição atual do conselho, apenas Bendine e Coutinho têm ligação com o governo. Carvalho (que substitui Ferreira na presidência do conselho), Luiz Navarro e Roberto Castello Branco também foram indicados pelo acionista controlador, mas vêm da iniciativa privada.
O quinto indicado pela União, Segen Estefen, é professor da Coppe/UFRJ.
Completam o colegiado os representantes dos minoritários, Guilherme Affonso Ferreira e Walter Mendes de Oliveira Filho, e o dos trabalhadores, Deyvid Bacelar.
Procurado pela Folha, Ferreira não informou as razões do pedido de licença, limitando-se a dizer, por meio de sua assessoria, que são "motivos pessoais". Ele continuará dando expediente na Vale.