Relatório de Itaú BBA cria polêmica e derruba ações de CSN e Usiminas
Boletim do banco, corrigido depois, dizia que siderúrgicas não tinham proteção contra alta do dólar
Papéis da CSN caíram 20,5% ontem, e os da Usiminas, 15,3%; empresas afirmam que estão protegidas
As ações da CSN e da Usiminas, duas das maiores siderúrgicas do país, derreteram nesta quarta (23) depois de um relatório do banco Itaú BBA afirmar que suas dívidas não tinham proteção financeira contra a alta do dólar, mecanismo conhecido no mercado como "hedge".
As siderúrgicas negam que estejam vulneráveis à arrancada da moeda americana. O episódio criou uma saia justa para o banco, que no fim do dia enviou aos clientes uma correção do boletim anterior. Nele, afirma que a avaliação sobre a CSN estava "imprecisa" –sobre a Usiminas, nem uma palavra.
O estrago, no entanto, já tinha sido feito. Em meio a preocupações provocadas pela cotação recorde do dólar e dúvidas sobre a situação financeira da Usiminas e da CSN –ambas tiveram suas notas de crédito rebaixadas por agências de risco recentemente–, os investidores correram para se desfazer dos papéis.
As ações da CSN despencaram 20,51%. Os da Usiminas, 15,35%. Foram, de longe, as maiores desvalorizações da Bolsa paulista, que caiu em média 2% ontem.
A brasileira Gerdau e outras siderúrgicas internacionais como Arcelor Mitttal e ThyssenKrupp também sofreram nas Bolsas, mas nada comparado com as quedas de CSN e Usiminas.
A Folha apurou que a direção da CSN, a mais afetada de todas, atribui o tombo de suas ações ao relatório do Itaú BBA e estudava se valeria a pena processar o banco.
Apesar de a errata do Itaú BBA não mencionar a Usiminas, a empresa afirmou por meio de nota que tem 44% de sua dívida em dólar e "boa parte possui instrumentos de proteção".
A CSN, que vem tentando renegociar suas dívidas com bancos, foi mais incisiva. Distribuiu um comunicado ao mercado em que afirma que todo seu débito de US$ 4,7 bilhões está protegido.
Além de ter receitas em dólar, a empresa mantém 90% dos R$ 8 bilhões que tem em caixa na moeda americana e fez contratos de proteção contra a variação cambial, segundo a companhia.
O Itaú BBA não quis comentar o caso, mas sentiu o golpe. Fez a retratação e tomou a iniciativa de afirmar a alguns interlocutores que o erro não foi intencional e o banco não teria lucrado com a flutuação das ações.
Destinado a clientes do banco, o relatório que deu confusão foi preparado para orientar os investidores sobre como se comportar na Bolsa brasileira depois que o país perdeu o selo de bom pagador da agência de risco Standard & Poor's.
Ele listava as empresas mais endividadas do Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas da Bolsa. Além de CSN e Usiminas, o banco citava a companhia aérea Gol, a operadora Oi e a Petrobras, entre outras.
No documento, o banco chegou a ponderar que as duas siderúrgicas não teriam problema para pagar suas dívidas de curto prazo. Mas, no geral, afirmou que o melhor é "evitar empresas com alavancagem elevada".