Mercado Aberto
MARIA CRISTINA FRIAS - cristina.frias@uol.com.br
Fim do código de barras?
Especialistas projetam a redução do número de lojas em poucos anos e o uso de novas tecnologias no varejo
O avanço da tecnologia nos processos de compra e a consolidação do "omnichannel", por meio do qual consumidores usam de forma simultânea canais físicos e virtuais, como smartphones, causarão impactos irreversíveis no varejo global.
A redução no número de lojas de rua e, ao mesmo tempo, o surgimento de pontos maiores que servirão mais para projeção de marcas do que para vendas estão entre as tendências citadas por especialistas durante conferência em Madri, no início deste mês.
"As lojas vão se firmar como grandes espaços sensoriais, onde o cliente vai para tocar, para sentir um produto", diz João Dionísio, especialista em varejo e professor da Porto Business School.
"O endereço foi sempre um dos fatores mais importantes de um negócio. Agora, o celular passa a ser a localização", afirma o executivo Manel Jadraque, ex-CEO da rede espanhola de moda Desigual.
Jadraque diz que a diminuição do número de unidades no comércio deverá ser inevitável. O executivo cita um estudo da consultoria britânica Javelin Group, que apontou que o Reino Unido observará uma redução de 23% de suas lojas até 2020.
REAPROXIMAÇÃO
Para Paulo Magalhães, CEO da Tlantic, empresa de tecnologia que tem entre os sócios o grupo português Sonae, o "omnichannel" permitirá uma reaproximação entre lojistas e clientes, algo que se perdeu nas últimas décadas.
"O código de barras deu muita agilidade ao comércio, pois possibilitou que ele se tornasse 'self-service'. Hoje, em muitas lojas, o contato com o cliente ocorre só na hora do pagamento", diz.
"Esse modelo, ao mesmo tempo que trouxe eficiência, provocou um grande distanciamento do varejista com o consumidor. O que veremos a partir de agora será o fim da era do código de barras."
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CONSUMIDOR NO CONTROLE DO ESTOQUE
A rede de supermercados Monte Serrat, de Itupeva (SP), deu o primeiro passo para integrar lojas físicas e ambientes virtuais.
A empresa implantou um sistema por meio do qual o cliente pode, pelo celular, fazer a lista de produtos e, ainda em casa, obter o valor total da compra.
Também pode visualizar a quantidade de itens de cada mercadoria que o supermercado tem em estoque. Essa transparência reduziu a falta de certas marcas e produtos, segundo o sócio Edevaldo Retondo.
"Os clientes agora nos avisam se um determinado item está perto de acabar."
A ausência de produtos é uma das principais causas de perda de vendas.
Um estudo apresentado pelo professor Daniel Corsten, da IE Business School de Madri, conduzido na Europa, mostrou que 31% dos clientes de lojas físicas que não encontram os seus produtos em estoque migram para a concorrência.
A tecnologia adotada pelo Monte Serrat foi implantado pela Tlantic, que passou a fornecer softwares para pequenos e médios supermercados. Antes, a empresa atendia apenas grandes redes do setor.
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COMPRAS DA ÁFRICA
A empresária Silvana Saraiva investiu R$ 6 milhões na realização da Feafro, evento que trará a São Paulo representantes de vinte países africanos para conhecer empresas brasileiras.
Organizada pela Apex, a terceira edição da feira poderá se beneficiar da desvalorização do real.
"O câmbio tornou os preços mais competitivos no Brasil", afirma Silvana Saraiva.
"Um dos projetos que os africanos pretendem negociar é a construção de 20 mil casas no Mali, com energia solar", diz.