Fogão, lavadora e móvel derrubam vendas do varejo no mês de agosto
Segmento recua quase 20% ante 2014 e afeta resultado do comércio, que caiu 6,9% no mês
Até o supermercado, um dos últimos setores a sentir a retração do consumo, registra queda nas vendas
Dono de 500 lojas de eletrodomésticos e móveis em cinco Estados, o empresário Romeu Zema, 50, vive neste ano seu primeiro retrocesso nos negócios em uma década. As vendas caíram 20% de maio a setembro deste ano em comparação com igual período de 2014 e 12 lojas do grupo já foram fechadas.
"Outras cinco lojas devem ser fechadas e não temos planos de inaugurações em 2016. Com a crise, o cliente prefere ficar com a lavadora barulhenta do que assumir uma dívida, porque tem medo de não conseguir pagar", afirma o empresário.
As vendas de móveis e eletrodomésticos recuaram 18,6% em agosto no país, ante o mesmo mês de 2014. É a maior queda do ramo na série histórica da pesquisa do IBGE, iniciada em 2000.
O grupo Zema, claro, não é um caso isolado. O varejo sofre com o aumento do desemprego, a redução da renda real do trabalhador e o crédito mais restrito. Consumidores têm optado por cortar itens do orçamento e adiar suas decisões de compras.
Considerando o resultado geral do varejo, as vendas recuaram 6,9% ante agosto do ano passado.
Trata-se da maior queda desde março de 2003 (-11,4%), quando a economia reagia às incertezas do primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva.
GELADEIRA VAZIA
Mesmo o ramo de supermercados, alimentos e bebidas, um dos últimos a serem cortados do orçamento das famílias, está no vermelho: queda de 4,8% em agosto na comparação com o mesmo mês do ano passado.
"O dólar acaba afetando as vendas de supermercado, mas de forma indireta, com aumento de preços de alguns produtos", disse Isabella Nunes, gerente no IBGE.
Sete das oito atividades do varejo restrito –que exclui automóveis e material de construção– acompanhadas pelo IBGE tiveram queda em agosto na comparação com igual mês de 2014.
O único setor que ainda registra ganhos é o de artigos farmacêuticos, cosméticos e perfumaria, tímidos 1,1% em agosto em relação ao mesmo mês do ano passado.
Na passagem de julho para agosto, as vendas do varejo encolheram 0,9%, o pior resultado para o mês desde 2000 (-1%). No ano, o varejo acumula baixa de 3%; a retração é de 1,5% nos últimos 12 meses.
CENÁRIO DIFÍCIL
Segundo Fábio Bentes, economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio), o varejo permanecerá ruim nos próximos meses e vai fechar o ano com queda de 3,6%, o pior resultado desde 2003.
"Isso significa que as contratações temporárias de fim de ano também serão mais fracas nos próximos três meses, 20% menores do que no ano passado", afirmou o economista.