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Opinião

Caso México mostra que o Brasil tem a síndrome do sofá

LUIZ CARLOS MELLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Anuncia-se que o Brasil teria a intenção de romper o Acordo Comercial Mercosul-México, alegando como causa o desequilíbrio na balança nessa área.

A notícia revela-se incongruente ao confrontá-la com o estágio de país comercialmente maduro como pretendemos ser reconhecidos.

O que poderão dizer futuros parceiros comerciais do país quando colocado sobre a mesa de negociações que preferimos o simplismo da denúncia, forçados por conjuntural desequilíbrio na balança, ao invés de, como gente grande, darmos prioridade à construção de uma nivelada competitividade?

Ora, sabendo-se que a construção de competitividade é de responsabilidade maior dos agentes privados na produção de bens e serviços para compor a vitrine comercial dos países, caberia às montadoras aqui operantes ajustarem os níveis de complementaridade dentro dos quais intercambiam os produtos que fabricam aqui e lá, evitando desequilíbrios momentâneos, como o atual.

No Brasil, desde o surgimento do chamado "carro popular", proclamou-se que nossa vocação seria a de polo de produção de carros dessa classe, para consumo interno e exportação.

Optaram por sediar na Argentina (o acordo com o México inexistia) a produção de veículos de maior valor agregado. E assim tem sido.

Com o México ocorreu o mesmo, sendo a estratégia depois intensificada na medida em que escolheram aquele país para produzir veículos de classe superior.

Compete a elas mandar mais "populares" para lá ou aqui começarem a produzir veículos que encantem os afluentes mexicanos.

O Brasil tem de ser competitivo por inteiro, tem que se despir dessa reducionista posição de especialista em carros pequenos e ousar nos de classe superior.

Se não o fizer, o risco de balança desequilibrada sempre estará presente e não se tornará um jogador de peso no cenário automotivo internacional. Simples como isso.

A decisão anunciada, se concretizada, será um autoatestado de fragilidade competitiva ou, no mínimo, poderá ser interpretada como a destruição do sofá pelo cônjuge que alcança o outro em pleno deslize conjugal... no dito sofá.

LUIZ CARLOS MELLO é diretor do CEA (Centro de Estudos Automotivos) e ex-presidente da Ford Brasil.

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