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Título sem IR vai financiar infraestrutura

Ministérios vão acelerar a definição de regras para emissão de papéis com benefícios fiscais para as concessões

Privatização de três aeroportos, na próxima semana, será um teste para captar recursos para infraestrutura

SHEILA D’AMORIM
NATUZA NERY
DE BRASÍLIA

Na tentativa de aliviar os cofres do Tesouro, o governo ordenou que sete ministérios acelerem a definição das regras para a emissão de títulos privados com benefícios fiscais, permitindo que empresas captem recurso barato para financiar projetos de infraestrutura.

A privatização de três aeroportos na semana que vem será importante vitrine para o governo testar esse novo mecanismo de captação de dinheiro que garante redução de impostos e estimula os investimentos privados.

O lançamento de títulos de longo prazo com isenção do IR é a aposta da equipe econômica para aliviar a pressão sobre as tradicionais fontes oficiais, como o BNDES.

O governo estima que somente nos três aeroportos que serão concedidos à iniciativa privada na segunda-feira (Guarulhos, Campinas e Brasília) e no privatizado no ano passado (São Gonçalo do Amarante, RN) serão necessários investimentos de R$ 17 bilhões nos próximos anos.

Nos cálculos oficiais, 80% desse montante (R$ 13,6 bilhões) deverá ser financiado. Normalmente, o BNDES (banco controlado pela União) aparece como primeira e principal fonte, dado o volume de recursos envolvido e o custo mais baixo do que dos empréstimos tradicionais.

A possibilidade de emissão de títulos privados com benefícios fiscais abre nova janela para o mercado financeiro privado suprir essa carência de dinheiro. Isso reduz a pressão sobre o BNDES -e sobre os cofres públicos.

Nos últimos três anos, o Tesouro precisou colocar mais de R$ 200 bilhões no banco oficial para ele conseguir atender à demanda crescente por financiamentos voltados a investimentos.

O governo sabe que esses projetos são vitais para sustentar o crescimento da economia nas próximas décadas, melhorando a competitividade do setor produtivo nacional e minimizando os riscos de descontrole da inflação.

Por isso, quer que essas debêntures, como os títulos são chamados, viabilizem projetos também em outras áreas, como transportes, energia, saneamento, irrigação, portos e ciência e tecnologia.

No entanto, até agora, somente o Ministério dos Transportes e a Secretaria de Aviação Civil definiram as regras. Os títulos com isenção de IR para pessoas físicas e alíquotas mais baixas para as empresas foram criados no final do governo Lula e só agora estão sendo regulamentados.

ESTRANGEIROS

Para o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, esses títulos ajudarão a desenvolver no Brasil o mercado de papéis privados de longo prazo, além de atrair estrangeiros.

A entrada de recursos externos esperada, no entanto, não deverá ser tão forte a ponto de gerar uma apreciação excessiva do câmbio, na avaliação do secretário.

A preocupação foi levantada por associações do mercado financeiro. Segundo Barbosa, elas chegaram a prever que poderiam entrar no país de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões por ano, quando a medida estivesse plenamente em vigor.

"Os benefícios valerão para estrangeiros e nacionais", afirma. "O mundo pode querer comprar, mas haverá uma restrição pelo lado da oferta", afirma, já que o benefício está focado em projetos de infraestrutura.

"Nesse caso, um interesse grande será benéfico. Poderá gerar competição e derrubar o juro pago nos papéis."

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