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Receita 'inexplorada' bancará aeroportos

Consórcios privados que assumirão terminais justificam lances altos com a renda de serviços ignorados pela Infraero

Edifícios-garagens, grandes complexos de compras e receitas publicitárias podem turbinar faturamento

MARIANA BARBOSA
AGNALDO BRITO
DE SÃO PAULO

Investidores que pagaram ágios altíssimos para os aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília acreditam que conseguirão incrementar as receitas comerciais explorando áreas que a Infraero ignora ou está impossibilitada de atuar por questões legais.

Com 7,6 milhões de passageiros, Viracopos obteve apenas R$ 500 mil com a veiculação de propaganda no terminal. Carlo Bottarelli, presidente da Triunfo Participações, sócia do consórcio que arrematou o aeroporto de Campinas, prevê quadruplicar essa receita no primeiro ano, podendo chegar a R$ 5,2 milhões dentro de três anos.

Outra importante fonte de receita são os estacionamentos. Fonte mais rentável de receita comercial de aeroportos em todo o mundo, os estacionamentos deverão ser operados diretamente pelo concessionário privado. Por lei, a Infraero não pode operar estacionamentos, sendo obrigada a terceirizar.

As empresas também pretendem ampliar as áreas de consumo pós-embarque, quando o passageiro já ultrapassou os controles de segurança. A prática é comum lá fora, enquanto no Brasil o maior volume de lojas está na área anterior ao embarque.

As empresas também têm planos para a construção de hotéis e outras facilidades no entorno dos aeroportos.

As concessionárias ainda acreditam serem capazes de realizar as obras com menos investimentos do que o previsto pelo governo. O edital de Viracopos (dos três o que tem mais obrigações de investimentos) prevê gastos de R$ 11,5 bilhões em ampliação e manutenção. Mas a Triunfo prevê fazer o mesmo com R$ 8 bilhões. "Quem elaborou o projeto, por mais qualificado, não tem a visão do operador", disse Bottarelli. "Otimizamos o projeto, reordenamos espaços e orçamos o projeto no centavo, com preços reais de mercado."

O projeto do governo para os três aeroportos, elaborado pela EBP (Empresa Brasileira de Projetos), calculou os custos e a projeção de receita com base na previsão de demanda de passageiros e de receitas aeroportuárias. Não foi levado em conta no preço da outorga o potencial de negócios que os novos concessionários poderão criar.

Isso explica o conservadorismo do governo ao estimar o valor de outorga, para os três aeroportos, em R$ 5,5 bilhões. No leilão realizado na segunda-feira, os aeroportos foram arrematados por R$ 24,5 bilhões.

Para Francinett Vidigal, diretor da VAE Consultoria, escritório que assessorou um dos consórcios que disputou o leilão, essa diferença de preço revela uma subavaliação de ativos públicos.

Fontes ligadas à elaboração do projeto defendem, contudo, que o conservadorismo foi proposital, para aumentar a atratividade.

IRÔNICO

André Esteves, presidente do BTG Pactual, foi irônico: "Pena que a gente não tinha aeroportos para vender como o governo". Com o BTG Pactual, Esteves fez proposta para os aeroportos, em consórcio com a Queiroz Galvão. "A iniciativa do governo foi muito boa, mas na nossa concepção de valor não era o que a gente achava adequado."

Colaborou TONI SCIARRETTA, de São Paulo

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