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Marion Strecker

Facebook e a filosofia hacker

O fato é que Mark vai reter para si o comando da empresa; e ele não é um executivo qualquer

Enquanto hackers atormentavam grandes bancos brasileiros atacando seus websites, na semana passada, a maior rede social do mundo, o Facebook, dava início às formalidades para abrir capital.

Coincidência interessante. Entre a documentação anexada ao processo de IPO (oferta pública inicial) está uma carta do cofundador e principal executivo da empresa, o bilionário Mark Zuckerberg, 27.

A carta defende a filosofia hacker. Mark argumenta que a palavra "hacker" ganhou uma imagem injustamente negativa pelas notícias sobre pessoas que invadem computadores. Ele se propôs a explicar como a filosofia hacker funciona e por que deve ser cultivada.

Em linhas gerais, concordo com Mark. Penso que os hackers podem ser do bem ou do mal. Podem fazer estragos ou genialidades. Podem agir dentro ou fora da lei. Podem ser exibicionistas e/ou cultivar o anonimato. "Hacker" contrapõe-se a "cracker", nome de quem invade um sistema para destruí-lo.

Na carta aos investidores Mark define "hackear" como fazer algo rapidamente ou testar as fronteiras do que pode ser feito. Diz que muitos hackers são pessoas idealistas, que querem proporcionar algum impacto positivo ao mundo.

Os hackers que atormentaram os bancos também se mostram idealistas, a acreditar num vídeo que circulou assumindo os ataques. Nesse vídeo, um porta-voz mascarado e sorridente afirma que o ataque não causou nenhuma ameaça à segurança dos clientes. Fala que a ideia do grupo, autointitulado Anonymous, é "lutar contra corrupção, desigualdade e etcetera e tal" (sic).

"Segundo a ideia Anonymous, o Brasil ideal seria quando não tivermos mais corrupção na política, que todas as famílias brasileiras tivessem uma moradia digna, o dia em que os trabalhadores tivessem salários dignos e etcetera" (sic), disse. O porta-voz usava uma máscara semelhante à do herói revolucionário anarquista da série em quadrinhos "V de Vendetta", publicada nos anos 80 e adaptada para o cinema em 2005.

"Anonymous" é termo usado desde 2003 para representar o conceito de muitas comunidades diferentes agindo simultaneamente na formação de um cérebro global anárquico. Desde 2008, "Anonymous" serve de nome para grupos que agem de forma coordenada, visando um objetivo comum.

Eles não temem ser desmascarados? "Medo é uma palavra que não pronunciamos", disse o autoconfiante porta-voz brasileiro. Segundo ele, a turma teria entre 25 e 35 anos, todos trabalham, não estão em busca de emprego e têm vida particular fora do "underground".

E isso me traz de volta à carta de Mark Zuckerberg, que assim enumera os cinco principais valores da sua filosofia hacker:

1) Ter foco no impacto que uma ação pode causar.

2) Ser rápido para fazer mais coisas e aprender mais rápido. Se alguém nunca erra, é porque não está sendo rápido o bastante.

3) Ser destemido. Se não arriscar, certamente vai fracassar.

4) Ser aberto. No Facebook,

Mark diz que trabalham duro "para assegurar que todas as pessoas tenham acesso ao máximo de informação possível sobre cada parte da empresa, de modo que elas possam tomar as melhores decisões e provocar o maior impacto".

5) Construir valores sociais. "O Facebook existe para fazer o mundo mais aberto e conectado, não apenas para construir uma companhia", escreveu Mark.

Conversa de vendedor ou algo a assimilar?

Não sabemos quais serão os impactos da abertura de capital. Fala-se em pressão por mais receita, inclusão de publicidade obrigatória na versão móvel e coisas assim. O fato é que Mark vai reter para si o comando da empresa. E ele não é um executivo qualquer. Ele é coautor do produto. Autores e hackers não se movem só por dinheiro.

Mark defende a inovação constante do Facebook, mesmo que o público não queira mudanças. Os números até aqui dão razão a ele. O Facebook disse ter fechado 2011 com 845 milhões de usuários ativos. Atingiu quase um sétimo da humanidade nos seus oito anos. Ainda há espaço para crescer e para tropeçar.

MARION STRECKER é jornalista, cofundadora e correspondente do UOL em San Francisco. Escreve às quintas-feiras, a cada quatro semanas, neste espaço.
marionstrecker@gmail.com
twitter.com/marionstrecker

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