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Graça no topo

Atriz festeira na juventude, Graça Foster, a 1ª mulher a comandar uma petroleira no mundo, adota rigidez como princípio para dirigir a maior empresa do Brasil

DENISE LUNA
ITALO NOGUEIRA
DO RIO

A jovem Gracinha curtia festa, era brincalhona e fazia rir as colegas de faculdade. A executiva Graça assusta subordinados com calendários, broncas e rigidez. As duas têm agora algo em comum.

Personagem principal nas peças de teatro do colégio na década de 60, Maria das Graças Silva Foster, 58, agora é protagonista na Petrobras.

Para chegar ao topo da maior empresa do Brasil, Graça, como hoje gosta de ser chamada, fez uma trajetória sob a marca da rigidez.

Isso fica evidente ao entrar em sua sala no 23º andar do prédio na avenida Chile, centro do Rio. Num imenso calendário, ela faz os gerentes escreverem a data exata em que entregarão as obras.

Quando o prazo é cumprido, o dia ganha fotografia e discreta comemoração. Quem não respeita os prazos se arrisca a ser remanejado.

"Ela é rígida, mas fala sinceramente que a pessoa não está rendendo e remaneja para outra função, explicando exatamente por que isso está acontecendo", disse o diretor do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia, Jean-Paul Prates.

A imprensa também não é poupada. Uma repórter chorou após críticas a uma reportagem. A bronca foi recheada da expressão "minha filha", usada também pela presidente Dilma Rousseff.

Apontada pelo jornal inglês "Financial Times" como uma das 50 mulheres em ascensão no mundo dos negócios, Graça apresenta resultados. Sob sua gestão, a diretoria de Gás e Energia da estatal passou de prejuízo de R$ 1,3 bilhão em 2007 para lucro de R$ 3,1 bilhões em 2011.

Decisões heterodoxas auxiliaram os êxitos da gestão. Para acelerar a conclusão de um gasoduto, decidiu enterrar o equipamento que fez a perfuração dos túneis em vez de desmontá-lo, o que atrasaria a obra em 104 dias.

O enterro da Anita, como a máquina era chamada por Graça, acelerou a obra e cumpriu os prazos estabelecidos.

ESTAGIÁRIA

Primeira mulher a comandar uma petroleira, estar quase solitária entre homens não é novidade para Graça. Formou-se engenheira química em 1978, na UFF (Universidade Federal Fluminense), em Niterói, com 42 homens e somente outras sete mulheres.

Incentivada pelo professor Egil Wagner Monteiro, Graça entrou na Petrobras como estagiária nesse mesmo ano: "Era uma aluna brilhante e foi uma estagiária brilhante. Sempre foi competente e estudiosa, muito dedicada".

Sempre cultivou medidas heterodoxas. Quando se queixava de que o marido, Cleber, não lhe dava atenção, dizia jogar sal no suco dele, ou passar batom no rosto para que ele a notasse, conta a amiga da faculdade Ana Regina Gravinho. "Ela era muito engraçada, educada e simpática."

Graça ainda estudava quando teve a primeira filha, o que atrasou sua formatura em um ano. "Tinha que fazer prova correndo porque Flávia estava no corredor, correndo de um lado para o outro", disse Graça em rara entrevista sobre a vida pessoal, à "Prata da Casa", publicação sobre ex-alunos da UFF.

A médica Flávia, 36, lhe deu a única neta, Priscilla, 16. Com o empresário Colin Foster, atual marido, tem outro filho, o jornalista Colin, 29.

Mineira de Caratinga, Graça nasceu em 1953. Aos dois anos, foi para o Rio. Viveu no morro do Adeus (zona norte), disse em entrevistas. No Complexo do Alemão, não há memória de sua passagem.

Em conversa com um assessor de ministro, no ano passado, contou que a mãe, Terezinha Pena Silva, era "paupérrima" e que vendia "umas coisas" para ajudá-la no sustento da casa. Diz-se que foi catadora de papel.

GRACINHA

Na juventude, viveu na Ilha do Governador (zona norte do Rio), onde moram a mãe, a irmã Rita e o sobrinho Diogo.

No ginásio, fez teatro e dividiu palco com o ator Miguel Falabella. Gracinha, como era chamada, costumava ser a atriz principal.

"Fazíamos [peças] com textos escritos pelo grupo. Ela era uma boa atriz. Tinha boa presença de palco, boa presença cênica", diz Eduardo Falabella (irmão de Miguel) e colega de turma na adolescência. Segundo ele, hoje pesquisador do Cenpes (centro de pesquisa da Petrobras), Graça participava de festivais de música, gostava de praia, festas e de namorar.

RARO CRÍTICO

Graça estagiou em outras empresas e trabalhou na extinta Nuclebrás antes de entrar definitivamente na Petrobras em 1981.

No início dos anos 2000, como gerente da Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), controlada pela Petrobras, conheceu Dilma. A então secretária de Energia do Rio Grande do Sul pediu um ramal adicional de um gasoduto para o sul do Estado. Ouviu um "não".

Em 2003, quando assumiu o Ministério de Minas e Energia, Dilma levou Graça para tocar o dia a dia da pasta.

Em 2006, assumiu a presidência da BR Distribuidora, onde ficou até 2007. Simplificou a estrutura organizacional, ampliou o foco na comercialização de combustíveis e o lucro subiu 46%.

Assumiu a diretoria de Gás e Energia, substituindo Ildo Sauer, um raro crítico.

Aumentou a rede de gasodutos, para atingir mais mercados. O prejuízo de R$ 1,3 bilhão em 2007, da gestão de Sauer, foi reduzido para R$ 315 milhões em 2008 e em 2009 revertido para um lucro de R$ 703 milhões, que continuou crescendo até 2011.

Para ele, o trunfo de Graça é seguir os passos da amiga Dilma, "tratando bem os de cima e mal os subordinados".

"DILMINHA"

A executiva filiou-se ao PT em 2008. Participou de eventos em apoio a Dilma na campanha de 2010. Segundo a filha Flávia publicou no Twitter, chama a presidente de "Dilminha" entre familiares.

Ao receber a medalha Tiradentes na Assembleia do Rio, em 2009, o discurso da neta, Priscilla, a emocionou, quando disse considerar a avó seu "maior exemplo".

Graça deixa claro que a "vida particular se adapta à Petrobras", como disse à "Prata da Casa". Chega às 7h30 ao trabalho, sem hora para sair.

De estagiária a presidente, Graça definiu à publicação da UFF a sua trajetória: "Eu poderia dizer que [entrar na Petrobras] foi um sonho, mas, na verdade, foi um acerto".

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