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Finanças Pessoais

MARCIA DESSEN marcia.dessen@bmibrasil.com.br

O brasileiro tomou mais crédito em 2011 e não consegue pagar

A boa notícia: aumentou a oferta de crédito em 2011, com números próximos a 50% do PIB. Muitas pessoas físicas e jurídicas tiveram acesso aos recursos financeiros necessários para fluxo de caixa, capital de giro, compra de equipamentos e outras ações planejadas (ou não).

Segundo a Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo, mais de 50% das famílias brasileiras têm algum tipo de dívida.

A má notícia: as estatísticas indicam que aumentou a quantidade de pessoas que não dormem bem à noite porque não conseguem pagar suas dívidas.

Ampla oferta de crédito, compras por impulso, nível elevado de taxa de juros e falta de controle do orçamento doméstico são ingredientes perigosos e podem provocar um bom estrago nas finanças da família. O índice de inadimplência subiu de 5,7% para 7,5% no ano passado, segundo o Banco Central.

O IBGE divide a população brasileira em cinco faixas de renda ou classes sociais, com base no número de salários mínimos. As chamadas classes A (renda acima de 20 salários mínimos) e B (renda entre 10 e 20 salários mínimos) reúnem atualmente cerca de 42 milhões de pessoas.

A classe C (renda entre 4 e 10 salários mínimos) reúne mais de 101 milhões de pessoas. E as classes D e E (entre 2 e 4 salários mínimos) englobam 48 milhões de pessoas.

Podemos notar então que a distribuição da população brasileira em classes sociais não forma mais a figura de uma pirâmide como em 2005, período em que a grande concentração estava nas classes D e E. Em 2010, a classe C domina.

Houve uma mudança significativa no perfil de renda da população brasileira, com a ascensão de muitas pessoas para classes superiores.

Renda mais elevada, acesso ao crédito relativamente fácil, porém caro, e ir com muita sede ao pote para beber uma água que antes não podia beber levaram, possivelmente, muitas pessoas a dar o passo maior do que a perna.

Estudos da Serasa Experian demonstram que a qualidade do crédito caiu nos últimos anos e apontam para maior chance de inadimplência. E se observa que essa queda na qualidade do crédito não é privilégio das classes mais baixas. Atingiu também pessoas das classes mais altas, que deixam de pagar em dia seus compromissos.

POSSÍVEIS RAZÕES

1) Tomar crédito para consumo, e o que é pior, por impulso. Contrair dívida para custear despesas supérfluas de refeições fora de casa, lazer, roupas e presentes, por exemplo, não é uma estratégia recomendável. Utilize crédito para comprar bens que ajudam na construção de patrimônio.

2) Tomar a modalidade de crédito errada. Compras e despesas feitas por impulso, sem planejamento, são normalmente pagas com o cartão de crédito. E financiar a fatura do cartão é a forma de crédito mais fácil e mais disponível. Nem precisa pedir.

Mas o problema é que se trata da modalidade de crédito mais cara que existe no mercado. Segundo a Anefac, a taxa de juros média dos cartões de crédito em dez de 2011 era de 10,7% ao mês.

Uma despesa de R$ 2.000 parcelada em 6 meses vai custar R$ 3.680. Em 12 parcelas, vai custar R$ 6.773, e, em 24 parcelas, R$ 22.938!!

Fácil perder o controle da situação com taxa de juros tão alta. As taxas de juros do cheque especial e dos empréstimos em financeiras são um pouco menores do que a taxa do cartão de crédito, mas também proibitivas. Evite.

3) Não controlar despesas nem estabelecer limites. O brasileiro não tem o hábito de controlar seu orçamento. Os que controlam nem sempre o fazem com a precisão necessária e deixam de lançar no orçamento pequenas despesas que, no fim do mês, acumuladas, provocam um rombo no fluxo de caixa.

Outro erro frequente é não lançar no orçamento as despesas que são pagas anualmente. Um bom exemplo é o carro. A maioria leva em conta somente as despesas mensais, tais como parcelas do financiamento, combustível, estacionamento e pedágios.

E acredita que gasta com o carro, por exemplo, R$ 900 por mês. A maneira correta de apurar o custo do carro é somar as despesas anuais relativas a IPVA, seguro, licenciamento, manutenção e multas, por exemplo, dividir por 12 e adicionar ao valor das despesas mensais. Surpresa! Descobre que gasta com o carro algo em torno de R$ 1.300/mês (exemplo), muito mais do que pensava.

O crédito ajuda a viabilizar sonhos e projetos de vida. Pode e deve ser usado em determinadas fases da vida, período da formação acadêmica, início de carreira, fase de casamento e filhos, de construção do patrimônio.

O crédito certo, na dose certa, inserido no orçamento familiar, pode ser um acelerador de suas conquistas. Use com planejamento e de forma consciente.

MARCIA DESSEN, Certified Financial Planner, é sócia e diretora-executiva do BMI Brazilian Management Institute, professora convidada da Fundação Dom Cabral e cofundadora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros.

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