Opinião combustíveis

Processo de asfixia da Petrobras traz prejuízos para o etanol

Apesar de todas as condições de que dispõe, o país está em um momento de forte retração na produção de etanol. Essa falta contribuirá para que o superavit comercial caia a preocupantes US$ 10 bilhões em 2012.

De quanto seria o superavit caso não fossem necessárias brutais importações de gasolina, de etanol norte-americano e contando com a ajuda das exportações de etanol e de açúcar brasileiros?

Com o crescimento da economia, da frota de automóveis e da demanda por energia, é imprescindível que agentes da cadeia sucroenergética tenham um horizonte previsível de regulamentação, que não vem ocorrendo, inibindo os investimentos, ante as evidências de seus benefícios.

Tarifas são alteradas, ameaças são feitas, tributos como a Cide são aumentados ou reduzidos, custos crescem comprometendo a competitividade, altera-se a mistura de anidro na gasolina, tributa-se um combustível fóssil e altamente poluente quase com a mesma alíquota que outro de emissão praticamente zero, e a precificação da gasolina injustificavelmente não segue as cotações internacionais.

O Brasil importa quantidades crescentes de gasolina por preço 30% acima do mercado doméstico, gerando perda de valor à Petrobras (que é acionista do setor de cana) e também aos produtores, destruindo o mercado de etanol. Em janeiro deste ano, as vendas de etanol foram 40% inferiores às do mesmo mês de 2011, que já haviam sido menores que as de 2010.

Comprova-se esse equívoco com dois anúncios da Petrobras. A empresa teve o pior desempenho, das que apresentaram balanços, no último trimestre de 2011, com resultado negativo em abastecimento (importações) de R$ 4,5 bilhões.

O ex-presidente da empresa justificou, em entrevista, que parte do problema da Petrobras se deve à expansão de 9% na demanda em 2011.

Expansão de demanda ser problema para qualquer empresa significa que algo realmente está errado no planejamento.

São frequentes os avisos de que a falta de um plano de longo prazo para o etanol se traduzirá em produção cada vez mais insuficiente no futuro, devendo o crescente consumo ser abastecido com mais importações de gasolina, gerando um ciclo de prejuízos à sociedade brasileira.

Os brasileiros presentes na Rio+20, em junho, devem estar bem preparados para o constrangimento de ter de explicar aos estrangeiros por que está naufragando o combustível renovável mais eficiente encontrado até o momento no planeta para substituir os fósseis.

Devido à explosão da demanda, a moeda de maior valor mundial, que confere o maior prestígio a uma sociedade, é a energia renovável (alimento e biomassa).

No Brasil, o sol distribui diariamente energia em milhões de hectares ociosos. Tristes trópicos...

-

MARCOS FAVA NEVES é professor titular de planejamento e estratégia na FEA-USP (campus Ribeirão Preto) e coordenador científico do Markestrat.