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Opinião internet

Virulência contra Eliana Tranchesi impressiona

Comentários sobre a morte da mulher que comandou a Daslu assustam; ela se tornou 'inimiga pública nº 1' do país

Espanto é ainda maior porque o Brasil é um lugar onde se compra sem nota fiscal e sem a menor culpa

TONY GOES
COLUNISTA DO “F5”

São assustadores os comentários na internet abaixo das notícias sobre a morte de Eliana Tranchesi, mas não surpreendentes: há tempos se sabe que muita gente extravasa sua agressividade na web. Também não é de hoje que Eliana havia se transformado numa espécie de "inimiga pública nº 1" do Brasil.

Não se trata de defendê-la. A ex-dona da Daslu foi julgada por sonegação. Há provas, e dificilmente ela não saberia dos esquemas, como alegou sua defesa. Mas a virulência dos posts impressiona.

O espanto é ainda maior porque o Brasil é um país onde muitos compram computador ou celular "nas boas casas do ramo", sem nota fiscal e sem a menor culpa.

Onde DVDs piratas são vendidos tranquilamente no meio da rua. Onde as malas dos viajantes chegam do exterior abarrotadas de roupas e eletrônicos -e tomara que a luz vermelha não acenda.

Foi neste país que Eliana Tranchesi virou uma espécie de Geni, em quem era permitido jogar pedra. Por que justamente ela, quando seus crimes -graves, sem dúvida- não são exatamente raros? Porque, mais do que um símbolo de vigarice, ela se tornou a garota-propaganda da desigualdade social do país.

A Daslu passou sem ser notada durante quase 40 anos, ocupando casinhas na Vila Nova Conceição. Era um endereço quase secreto, só conhecido pelos clientes, que não fazia propaganda nem tinha site. Mas o negócio cresceu tanto que incomodou os vizinhos do bairro, quase todo residencial, e a loja resolveu se mudar -justamente, ó, ironia do destino, para ficar do lado certo da lei.

A inauguração do "palazzo" em estilo neocafona, às margens do rio Pinheiros, causou estardalhaço. Era um templo dedicado ao consumo de luxo e à ostentação, num país em que milhões de pessoas passam fome.

As TVs fizeram um Carnaval. O fã-clube de Angelina Jolie (!) promoveu um protesto barulhento na porta, porque a Daslu vendia casacos de pele natural. A abertura da nova sede se revelou um erro de "timing" monumental, totalmente em desacordo com as promessas da era Lula.

Quando, logo na sequência, a Polícia Federal deflagrou a Operação Narciso e prendeu Eliana e seu irmão, muita gente se sentiu vingada. Padrinhos poderosos não conseguiram estancar a hemorragia de clientes: os corredores se esvaziaram e nunca mais tornariam a encher.

Agora o "palazzo" está desocupado, mas a Daslu sobrevive: sua confecção própria -que sempre teve ótima qualidade e preços razoáveis- floresce em shoppings de São Paulo e do Rio e em breve chegará a outras cidades.

Virou uma loja como tantas outras -e 100% nacional. Mas meio tarde para a reputação de Eliana Tranchesi: no imaginário dos que se sentiram excluídos pela Daslu, ela não descansará em paz.

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