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Internet em casa reduz número de LAN houses no país

Com aumento nos acessos domiciliar e móvel, 30 mil estabelecimentos fecham as portas em 2011, estima Sebrae

Entidade propõe mudança de modelo de negócios para dar sobrevida aos empreendimentos

NELSON DE SÁ
ARTICULISTA DA FOLHA
CAROLINA MATOS
DE SÃO PAULO

As LAN houses, que respondiam pela maioria dos acessos à internet no Brasil até três anos atrás, estão mais raras. O Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) estima que o número de unidades tenha caído de 130 mil em 2010 para 100 mil em 2011 (-23%).

João Maria de Oliveira, pesquisador de Políticas Setoriais de Inovação do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), defende não desperdiçar a estrutura e a experiência acumuladas.

"Fala-se tanto em estimular o pequeno empreendedor", diz Oliveira. "A LAN house é um espaço de empreendedorismo marcante no país. Entraram no espaço vazio, cumprindo papel fundamental na inclusão digital."

O acesso nos domicílios que superou as LAN houses em 2009, segundo o CGI (Comitê Gestor da Internet)- e nos aparelhos móveis, entre outros fatores, abriu uma corrida para desenvolver novo modelo de negócios.

"Como inicialmente concebido, o modelo talvez deixe de existir", afirma Juliano Cappi, do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação do CGI. "Não podem mais ser um lugar só de acesso à internet, mas um ponto que ofereça serviços, outros tipos de atividade."

O Sebrae é uma das organizações que buscam saídas para as LAN houses.

"O setor passa por consolidação", diz o diretor técnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos. "O serviço tinha demanda pela falta de acesso. Já ocorreu em outros países: à medida que aumenta o número de computadores nos lares e o acesso, o serviço deixa de ter importância."

No Brasil, segundo estudo da FGV, a quantidade de computadores deve chegar a 98 milhões neste ano. Em 2005, eram 30 milhões. O aumento é creditado à elevação na renda e à queda no preço.

A banda larga vem crescendo "num ritmo lento", diz Oliveira, do Ipea. Ele relata que caiu o preço que "as grandes operadoras cobram dos pequenos provedores, o que repercute positivamente", e diz aguardar o efeito das mudanças de legislação que buscam estimular a concorrência.

"A gente ainda tem uma concentração muito grande", diz, citando dados da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) que mostram que 81,3% das cidades enfrentam monopólios (a operadora domina mais de 80% do mercado de banda larga).

RISCO

Se crescer a concorrência, como esperado, deve se acelerar ainda mais a consolidação de LAN houses. "Qualquer movimento pode fazer essas empresas quebrar", avisa Cappi, do CGI. "São negócios familiares 80%, declaram ter até três funcionários 97% e metade é informal."

Cappi defende priorizar a capacitação dos donos das LAN houses, "para que um gestor possa pensar no seu negócio, gerir sua empresa" e assim "repensar o modelo".

Santos diz que o Sebrae faz esse trabalho. O projeto Raio Brasil (Rede de Atendimento, Informação e Orientação) é "voltado aos gestores" e já atinge 2.500 LAN houses; o Desafio LAN Sebrae, que associa as LAN houses "como um pequeno ponto de atendimento do Sebrae", apoia a formalização e oferece serviços como ensino a distância.

Segundo a CDI Lan, empresa que dá suporte a 6.500 LAN houses em periferias e cidades do interior, mais de 50% da receita desses locais já vêm de serviços como cadastro de currículos e pagamento de contas. O faturamento médio de uma LAN house popular é de R$ 3.000 por mês.

"Há cinco anos, a conexão à internet era a fonte de receita", diz Bernardo Faria, diretor-presidente da CDI Lan. "Em cinco anos, terão virado centros de conveniência."

Faria diz que, na periferia, a falta de segurança é fator limitador do desenvolvimento, "quanto à possibilidade de se tornar correspondente bancário" para pagamento de contas. "Esse receio não existe nas cidades do interior."

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