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Nizan Guanaes

Humanidade, substantivo feminino

No ranking do Banco Mundial, o Brasil aparece entre os países que se destacam pelo número de novas empreendedoras

No ano passado a revista "The Economist" fez uma polêmica campanha publicitária para atrair novas leitoras, já que mais de 85% de seu leitorado é masculino.

Elitista por opção, a revista enviou folder -a um seleto público feminino- que perguntava: "Por que as mulheres devem ler a 'Economist'?" E logo respondia, em letras garrafais: "Elas não devem".

Na página seguinte do folder, a mensagem: "Pessoas influentes e bem-sucedidas devem nos ler. Pessoas como você".

Ou seja, a campanha quis igualar homens e mulheres para atrair as mulheres: pessoas poderosas leem a "Economist", sejam elas homens, sejam mulheres, e a revista não fará concessões "femininas" em sua linha editorial.

Apesar do tom igualitarista, a campanha foi alvo de muita crítica, e não sei se conseguiu aumentar o leitorado feminino. Mas deixou claro como ainda é difícil para a propaganda falar com as mulheres no século 21. No Brasil e no mundo.

É um aprendizado necessário e urgente. As marcas precisam falar com a mulher de forma mais madura e evoluída, precisam entender o novo papel da mulher e o seu imenso potencial num mundo que será cada vez mais feminino.

Porque a era das redes sociais só pode ser a era da mulher. Elas são mais conciliadoras e comunicativas, mais capazes de comandar a produção e a gestão coletivas que dominarão as organizações.

Diferentemente da vocação masculina ao poder duro, centralizador e impositivo, as mulheres buscam com mais naturalidade a colaboração e o convencimento, mais adequados para sociedades e negócios estruturados em redes, baseados no compartilhamento de poder e informação, no estímulo à participação.

A mulher é guerreira, mas ela não vai à guerra como os homens, para destruir inimigos. Ela vai à guerra para construir, para proteger e para nutrir os seus. Existe um consenso entre os ativistas sociais de que a mulher é o vetor mais eficiente de propagação de prosperidade, segurança familiar, saúde e educação.

Mas séculos de discriminação demoram a ser curados: o número de mulheres em cargos de chefia e liderança é ínfimo. Mas crescente.

No ranking da revista "Forbes" de mulheres mais poderosas do mundo, Dilma Rousseff ocupa a terceira posição, atrás da chanceler alemã, Angela Merkel, e da secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton. Acrescente-se ao trio a francesa Christine Lagarde, comandante do FMI, e temos um quarteto fantástico de mulheres poderosas que começam a dividir o comando global com os homens.

E se é tão importante termos uma mulher no posto mais importante do Brasil, vemos também na base da pirâmide uma evolução animadora. No ranking do Banco Mundial de empreendedorismo, o Brasil aparece entre os países com maior número de novas empreendedoras.

As mulheres vêm obtendo ganhos notáveis em representação política, em direitos legais (Lei Maria da Penha) e em educação (há mais brasileiras do que brasileiros cursando o terceiro grau). Mas, apontam os especialistas, é o papel da mulher como empreendedora o fenômeno mais relevante no "empoderamento" feminino.

A maioria das brasileiras torna-se empreendedora por necessidade. Discriminadas no trabalho, tendo de cuidar dos filhos sozinhas, essas guerreiras abrem seus negócios porque é a melhor (talvez única) forma de sustentarem a si e aos seus.

Por isso é tão importante o desenvolvimento de programas como o microcrédito, o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida, quase sempre administrados pela mulher. Porque é a mulher quem organiza o lar, a família. Apoiá-las é apoiar o desenvolvimento de todos.

Por isso na quinta-feira, quando o mundo comemora o Dia Internacional da Mulher, estarei em Nova York para evento da Mulheres no Mundo, fundação na qual trabalho e sou cofundador com Tina Brown, Meryl Streep, Hillary Clinton, Angelina Jolie, Christine Lagarde e tantas outras.

Nosso objetivo é mobilizar o mundo em torno dos problemas das mulheres e mobilizar as mulheres em torno dos problemas do mundo. Porque essa luta é tanto da mulher quanto do homem, é da humanidade. E humanidade é uma palavra feminina.

NIZAN GUANAES, publicitário e presidente do Grupo ABC, escreve às terças-feiras, a cada 14 dias, nesta coluna.

AMANHÃ EM MERCADO:
Mario Mesquita

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