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Commodities

Etanol vindo do milho é viável no Brasil

Produção do combustível é eficaz em várias regiões, diz consultoria, especialmente em regiões do Centro-Oeste

Diferentemente da cana, que deve ser processada logo após colheita, milho pode ser industrializado durante o ano todo

MAURO ZAFALON
COLUNISTA DA FOLHA

No país da cana, é viável também a produção de álcool de milho, cuja produção é dominada pelos EUA.

Mas por que produzir etanol do milho se os avanços tecnológicos no campo e na industrialização da cana tornam o modelo brasileiro mais competitivo que os demais?

A Consultoria Céleres, de Uberlândia (MG), analisou o cenário e chegou à conclusão de que a produção de álcool de milho é eficaz em várias regiões, principalmente nas fronteiras agrícolas.

Os motivos são vários, segundo Ricardo Giannini, especialista em milho e com longa vivência nesse setor.

Embora não seja o local ideal para produzir esse tipo de etanol, a estrutura continental do Brasil permite que, em algumas regiões, o produto extraído do milho seja mais competitivo que o da cana.

Entre essas regiões, Giannini inclui o Centro-Oeste -por uma questão de logística, o combustível a ser produzido deverá ser consumido localmente.

Do lado da produção, o diretor da Céleres diz que a oferta de milho cresce anualmente. A necessidade de rotação com a soja, principal cultura da região, e a busca de mais uma fonte de renda pelo produtor no período da safrinha têm permitido ao Centro-Oeste ser o segundo maior produtor de milho do país.

Além disso, o uso de novas tecnologias já coloca determinadas regiões com produtividade de 180 a 200 sacas por hectare, eficiência parecida à da Argentina e a caminho da dos Estados Unidos.

Do lado da logística, a construção de usinas de álcool nessas regiões é importante. Isso porque o excesso de milho nessas fronteiras tem de ser desviado para locais distantes, como o Nordeste.

TRANSPORTE

As usinas de produção de álcool proveniente do milho seriam uma solução para essas regiões. Além de gerar renda, evitariam o "passeio" de milhares de caminhões que saem do Sudeste e percorrem de 1.500 a 2.000 quilômetros para levar combustível a essas regiões.

Além disso, a industrialização do cereal nessas regiões reduzirá o transporte desse milho para portos que estão, também, a 2.000 quilômetros do local de produção.

Com real valorizado, o custo da produção do etanol de milho fica, aliás, menor que o da cana. O litro de álcool de milho em Iowa (EUA) custa de US$ 0,42 a US$ 0,56. Já o custo do de cana fica entre US$ 0,58 e US$ 0,66 no Brasil.

Giannini diz que o milho pode ser armazenado e industrializado durante todo o ano -a cana exige processamento logo após ser colhida.

Outra desvantagem da cana é que, se o mercado está mais favorável ao açúcar, a produção de álcool cai, como ocorreu nos últimos anos.

Mas Giannini diz que um dos grandes trunfos do milho está no custo e na disponibilidade -às vezes, até em excesso- do cereal em algumas regiões do Brasil.

"A produção cresce e há um claro boom de oferta."

USINAS 'FLEX'

Glauber Silveira diz que a própria Aprosoja já estudou a viabilidade da produção de etanol de milho em Mato Grosso. Os custos de implantação das usinas são elevados, mas a produção do combustível em usinas "flex"-que operam com cana e com milho- pode ser competitiva, segundo ele.

Os investimentos por litro de capacidade anual de produção de etanol é entre R$ 0,98 e R$ 1,23 para as usinas de milho e entre R$ 1,58 e R$ 2,11 para as de cana.

Alysson Paolinelli, presidente da Abramilho (associação dos produtores), diz que uma nova utilização para o milho nacional é importante.

"O país tem de levar a sério a produção do cereal e temos espaço para avançar."

Defensor da produção de etanol de milho, Giannini diz que, "se alguém me falasse há poucos anos em produzir, comercialmente, etanol a partir de milho no Brasil, eu o consideraria um louco".

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