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Análise

Ambiguidade marca trajetória da indústria brasileira

ERNESTO LOZARDO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há uma realidade ambígua na história da indústria brasileira. De 1960 a 1990, a sua participação na produção nacional cresceu. Chegou a representar 29,3%, em 1990.

Daí em diante, com o Plano Real, a indústria nacional encolheu e representou, em média, 16,4% da produção nacional. No ano passado, esse percentual ficou ainda menor: registraram-se 14,6%.

Essa ambiguidade é fruto das políticas de combate à inflação por meio de juros estratosféricos, câmbio administrado, irresponsabilidades fiscais, ausência de estratégia à abertura e de competitividade à indústria nacional.

É difícil distinguir se isso ocorreu pela resistência dos empresários à abertura comercial ou pela incapacidade do governo em formular uma política de crescimento com estabilidade, com desenvolvimento industrial competitivo. O desafio continua.

Em 2006, os manufaturados apresentaram superavit na balança comercial, em torno de US$ 8 bilhões. Daí em diante, registraram-se deficit: em 2011, de US$ 92 bilhões, e, neste ano, deverá chegar a US$ 120 bilhões.

À medida que cresce o deficit na balança comercial, diminuem a produção de manufaturados, o emprego, a renda e a receita pública.

Desde 2010 até o fim do ano passado, o Brasil subiu no ranking das nações que mais solicitaram investigações sobre dumping na OMC.

Essas solicitações representam o sintoma da falta de competitividade da indústria de manufaturados, que não se resolve com pedidos de investigação ou com a redução dos juros, auxiliando a desvalorização do real.

É importante compreender que um país somente é competitivo se contar com um setor industrial expressivo.

A indústria nacional perde competitividade por conta dos altos custos dos encargos da mão de obra (32,5% na folha), do alto custo do capital (juros e "spreads" bancários), da regulamentação federal determinando que a caderneta de poupança e o passivo dos fundos de pensão sejam remunerados à taxa real de juros de 6% ao ano, dos custos dos insumos elevadíssimos, da ineficiência da infraestrutura e da falta de política de inovação.

A desindustrialização nada tem a ver com a política cambial.

Se as causas apontadas não forem resolvidas com urgência, os empresários serão reféns da produção industrial dos países emergentes mais competitivos.

ERNESTO LOZARDO é professor de economia da Fundação Getulio Vargas e autor do livro "Globalização: a Certeza Imprevisível das Nações".

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