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Análise

Indústria do país precisa encontrar alternativas

ROBSON GONÇALVES
ESPECIAL PARA A FOLHA

O setor têxtil é parte importante da história da indústria brasileira. Esteve dentre os primeiros segmentos a se instalar no país e, na atualidade, é um dos personagens centrais de nosso processo de "desindustrialização".

Intensivo em mão de obra, matérias-primas pouco elaboradas e tecnologia madura, o setor se tornou alvo das políticas de estímulo de diversos países que embarcaram tarde no processo de desenvolvimento industrial, com destaque para Índia, China e Paquistão.

É natural que esses países tenham escolhido começar esse processo em segmentos maduros e intensivos em trabalho não qualificado. Na etapa seguinte, avançam para outros ramos, como brinquedos, eletroeletrônicos e automóveis. Mas nem sempre abandonam a área têxtil.

O desafio que surge em países como o Brasil é que a produção asiática acaba deslocando a nossa nesse e em outros ramos industriais semelhantes, como calçados.

Num primeiro momento, sofrem as nossas exportações. Em seguida, nosso mercado acaba sendo "invadido" pelas importações.

A longo prazo, o recado é: países como o Brasil devem "fugir" da concorrência asiática, especializando-se na produção de bens que dependam menos de baixos custos de mão de obra. Seria o caso da indústria aeronáutica e da prospecção de petróleo em águas superprofundas.

No entanto, o setor têxtil é importante fonte de emprego e renda em algumas regiões e seria importante garantir alguma sobrevida. É o que acontece em áreas do interior de São Paulo, Ceará, Rio Grande do Sul e sul de Minas. Nesse sentido, são bem-vindas as iniciativas do governo de desonerar a folha de salário nos segmentos mais afetados pela concorrência.

Ainda assim, é impossível deixar de pensar no longo prazo. E aí a melhor estratégia é engajar essas regiões num processo de substituição industrial.

Num contexto de contínua valorização do real, não parece razoável supor que conseguiremos competir com os custos de mão de obra asiáticos. Ao mesmo tempo, medidas meramente protecionistas acabam encarecendo os produtos vendidos no mercado interno.

Nesse sentido, as medidas atuais de estímulo aos setores têxtil e calçadista devem ser vistas como um alerta, e não como um alívio.

O alerta é que é preciso aproveitar o tempo que ainda temos para mudar a vocação produtiva regional em diversos pontos do país.

ROBSON GONÇALVES é professor dos MBAs da FGV e consultor da FGV Projetos.

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