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Finanças Pessoais

MARCIA DESSEN marcia.dessen@bmibrasil.com.br

Veja como um orçamento bem-feito pode fazer você gastar menos

Fazer o orçamento mensal da família, planejar os gastos antes de sair por aí torrando dinheiro, estabelecer limites e parar de gastar quando o dinheiro acabou são hábitos mantidos por um pequeno número de pessoas.

Fazer orçamento requer uma disciplina rígida e ninguém quer ser o chato de plantão, dizendo que não pode isso e não pode aquilo. A gente trabalha tanto para quê? Para gastar, ora bolas! Vamos aproveitar a vida e depois a gente se vira para pagar as contas.

Se você se identificou com a história contada, é bem provável que você faça parte do time que gasta mais do que ganha. E é bem possível que não faça isso de caso pensado, porque quer.

O mais provável é que isso aconteça porque não existe um orçamento, bem-feito, que o impeça de gastar mais do que pode. Muitas vezes, o dinheiro existe, mas não está disponível. Isso faz toda a diferença do mundo.

Vamos ver um caso que exemplifica muito bem situações desse tipo, de pessoas que controlam suas despesas e não entendem por que, corriqueiramente, precisam recorrer ao cheque especial ou parcelar a fatura do cartão de crédito.

Maria controla suas despesas na ponta do lápis. Classifica as despesas por tipo: moradia, alimentação, transporte, educação, comunicação e lazer. E tem uma linha denominada "outras despesas", que, normalmente, atinge um valor muito acima do que ela esperava.

Ela já observou também que a coisa fica feia e o orçamento sai do seu controle quando recebe a fatura de taxas e impostos que não fazem parte de suas despesas mensais regulares e que são pagas somente uma vez por ano.

O ERRO

É bem possível que Maria não esteja planejando as despesas, conhecidas e previstas, que serão feitas em outra data que não no mês em curso. Não me refiro a despesas extraordinárias que ocorrem sem nenhuma previsão possível.

No item "transporte", por exemplo, a planilha de controle de Maria não tem uma linha para lançar o IPVA do carro, cuja fatura só será recebida no mês de janeiro de cada ano. Se Maria não fizer uma reserva para o IPVA, o orçamento do mês de janeiro vai estourar com certeza, mesmo que ela utilize a opção de parcelamento.

A SOLUÇÃO

Fazer como José. Ele estima gastar cerca de R$ 1.500 com o IPVA do carro em janeiro. Nesse mesmo mês, renova anualmente o seguro do carro e utiliza a opção de pagamento à vista, que lhe rende um bom desconto. O seguro do carro custará cerca de R$ 2.500.

José prepara-se durante o ano todo para pagar o IPVA mais o seguro do carro em janeiro. Soma as duas despesas (R$ 4.000), divide por 12 e lança o valor de R$ 333 todos os meses na linha de provisão para IPVA e seguro do carro. Esse valor é aplicado e mantido separado das outras reservas de José, pois já está comprometido.

OS BENEFÍCIOS

Os benefícios de um orçamento bem-feito são inúmeros. Maria, colega de trabalho de José, aprendeu umas boas lições com ele e está animada com a perspectiva de fazer o seu dinheiro valer mais.

1) José não se engana pensando que tem dinheiro sobrando. Com isso, não gasta mais do que pode. Embora exista uma "sobra" de R$ 333 todos os meses, ele sabe que esse valor não está disponível, pois está comprometido com o pagamento do IPVA e do seguro do carro. Esse dinheiro é investido regularmente e gera rendimentos de 6% ao ano para José. Aliás, para não esquecer, ele se vale do recurso de aplicação automática oferecido pelo banco no qual tem conta.

2) José economiza cerca de 5% do valor da despesa. Como foi prudente e guardou dinheiro, paga à vista e se beneficia de um bom desconto.

Em uma aplicação financeira, por exemplo, seriam necessários quase dez meses para ganhar remuneração líquida de 5%. Ele ganha duas vezes: uma ao receber juros na aplicação do dinheiro e outra quando consegue o desconto para pagar à vista.

3) José sabe exatamente quanto custa cada item do seu orçamento. Antes de fazer o orçamento bem-feito, ele achava que as despesas com o carro representavam cerca de 15% de seu orçamento. Hoje, sabe que esse item leva 28% de sua renda líquida todos os meses. Não são poucas as vezes em que para e pensa se vale a pena tanto esforço ou se não poderia fazer alguma coisa a respeito.

4) José ignora o limite concedido pelo cartão de crédito e o limite do cheque especial. Para ele, vale o seu limite, aquele que cabe no seu orçamento e pode ser quitado sem gerar o pagamento de juros. Há tempos, decidiu que não usa crédito para financiar pequenas despesas de consumo. Usa crédito para formar seu patrimônio e está financiando a compra da casa própria. Esse é o crédito que vale a pena.

Se você acha que fazer orçamento não tem graça nenhuma, faça uma experiência e veja quanto dinheiro você teria a mais para gastar com você e com sua família em vez de pagar juros porque falhou no controle das despesas. Você pode se surpreender...

MARCIA DESSEN, Certified Financial Planner, é sócia e diretora-executiva do BMI Brazilian Management Institute, professora convidada da Fundação Dom Cabral e cofundadora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros.

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