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Empresa ligada a calote pede novo incentivo

Grupo conectado a prejuízo a cofres públicos há mais de 15 anos, segundo a Fazenda, quer construir montadora de novo

Fazenda Nacional obteve na Justiça decisão que bloqueia o uso das marcas Towner e Topic pela CN Auto

Mateus Bruxel - 23.out.10/Folhapress
Utilitários Towner, modelo que seria montado na fábrica da Bahia que nunca saiu do papel, em exposição em São Paulo
Utilitários Towner, modelo que seria montado na fábrica da Bahia que nunca saiu do papel, em exposição em São Paulo

FELIPE SELIGMAN
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DE BRASÍLIA

Uma empresa que, de acordo com o Ministério da Fazenda, tem ligações com um calote bilionário contra o governo anunciou planos de construir uma fábrica de carros no Brasil em troca de incentivos -exatamente a mesma promessa que gerou o prejuízo aos cofres públicos há mais de 15 anos.

O elo entre a primeira empresa, a AMB (Asia Motors do Brasil), e a segunda, CN Auto, é o empresário Washington Armênio Lopes, que, segundo uma ação da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, aparece nos quadros societários dos dois grupos.

Armênio Lopes é um dos sócios brasileiros da AMB, empresa responsável por um dos maiores escândalos empresariais da década de 1990.

O quadro societário da AMB era formado pela coreana Kia e um grupo de brasileiros, responsáveis de fato pela gestão da empresa.

A AMB foi beneficiada pelo regime automotivo dos anos 1990. Recebeu incentivos fiscais do regime automotivo na importação de utilitários coreanos -que no Brasil receberam o nome de Towner e Topic- em troca da construção de uma fábrica da Kia no Estado da Bahia, que nunca saiu do papel.

Como a fábrica não foi construída, a Receita Federal inscreveu o incentivo na dívida com a União. Até o ano passado, o valor chegava a cerca de R$ 2 bilhões.

A coreana e os empresários locais se desentenderam e travaram disputas judiciais, inclusive no exterior, para saber de quem seria a responsabilidade pela dívida.

No ano passado, a Justiça reconheceu que a Kia não poderia ser cobrada pela dívida, pois teria sido enganada pelos sócios brasileiros, com Armênio Lopes à frente.

INDÍCIOS

Também em 2011, a Fazenda informou à Justiça Federal ter descoberto "fortes indícios de formação de grupo econômico" entre a hoje falida AMB e a CN Auto. O jargão significa, na prática, que o governo poderia cobrar da CN a dívida da AMB.

O governo tenta até hoje, sem sucesso, recuperar o dinheiro, já que a AMB estava falida e a Kia não poderia ser responsabilizada.

A Fazenda Nacional apurou que carros com o selo Towner e Topic voltaram a entrar no país, mas agora importados da China.

A Fazenda descobriu, então, que as marcas ainda pertencem à AMB, mas foram cedidas à CN Auto. Armênio Lopes, que até hoje é dono da primeira, também aparece, com um filho, entre os sócios da segunda.

INTENÇÕES

O curioso é que a CN Auto planeja construir uma fábrica no Espirito Santo, esperando apenas o resultado do novo regime automotivo.

Enquanto o programa federal não sai, a CN Auto assinou um protocolo de intenções com o governo do Espírito Santo, em que se compromete a investir R$ 250 milhões em troca de benefícios fiscais estaduais.

A CN também aguarda a decisão da presidente Dilma Rousseff sobre o novo regime automotivo para tentar se beneficiar dele.

A Fazenda Nacional já obteve na Justiça uma decisão que bloqueou a utilização das marcas Towner e Topic pela CN Auto.

Mais do que isso, a Justiça determinou que essa empresa revele se firmou contrato com AMB.

A decisão da Justiça é do fim do ano passado, mas até hoje as informações não foram prestadas.

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