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Cifras & Letras

CRÍTICA / MUNDO CORPORATIVO

Para ex-criminoso, máfia tem excelentes homens de negócio

Louis Ferrante agora ganha a vida dando orientações e palestras para executivos terem sucesso na carreira

A MÁFIA É A CORPORAÇÃO MAIS ANTIGA DA HISTÓRIA. ELA PROGRIDE EM TEMPOS DE PROSPERIDADE E FLORESCE AINDA MAIS NA RETRAÇÃO

TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

Para quem acha o mundo corporativo uma selva, em que só predadores sobrevivem, o crime organizado pode ser uma escola de como prosperar nas empresas.

Pelo menos esse é o argumento de Louis Ferrante, um ex-mafioso americano da família Gambino que foi condenado a 13 anos de prisão e agora se diz completamente regenerado.

Fora do mundo do crime, do qual guarda carinhosas recordações, Ferrante ganha a vida fazendo palestras e escrevendo livros de autoajuda empresarial. Afinal, diz, "a máfia é o tipo mais antigo de corporação da história".

"Os mafiosos mais bem-sucedidos são excelentes homens de negócios. A única diferença entre a máfia e as empresas é o uso da violência", disse o ex-mafioso, por e-mail, à Folha.

"Mesmo assim, muitas corporações negligenciam as regras de segurança com objetivo de maximizar lucros, o que também acaba levando à morte violenta das pessoas, como no acidente em alto-mar da BP em 2010", afirmou.

Ferrante diz que conheceu muitos "fora da lei" que prezavam mais por princípios e por valores éticos do que executivos do topo das grandes empresas.

"Percebi que minha ideia de mundo lícito era uma fantasia. Encontrei pessoas na sociedade legal muito piores do que boa parte dos mafiosos que conhecia -eram lobos em pele de cordeiros."

"Os mafiosos têm um código de princípios forte. Eles sabem que tudo o que têm é sua reputação. Quando um mafioso dá a sua palavra, deve mantê-la ou ninguém mais vai querer fazer negócios com ele. Eles também constroem relacionamentos de longo prazo. Esses princípios podem ser aplicados à vida nas empresas e os homens de negócio que seguem isso vão, inevitavelmente, prosperar."

No livro, Ferrante dá dicas de como "agradar ao chefão", sobre quando "levar bala" pelo patrão e como fazer uma "oferta irrecusável" para ser contratado.

Ferrante fala ainda sobre os princípios de lealdade, que, afirma, são infalíveis tanto quando aplicados na máfia quanto nas empresas.

"As paredes têm ouvidos: nunca fale mal do chefe para não parar no porta-malas de um carro", escreveu.

MERITOCRACIA

Entre as boas lembranças que guarda da máfia, Ferrante afirma que o crime organizado tem uma política de recursos humanos moderna e focada na meritocracia, que procura recompensar os mais talentosos e leais soldados.

"A máfia existe apenas com comissão. Você fica com parte daquilo que faz. Acho que as pessoas são mais produtivas dessa forma. Todas as companhias deveriam oferecer prêmios de reconhecimento para trabalho duro."

Ex-agiota, Ferrante afirma que nunca aumentava os juros dos empréstimos feitos na rua. "Na verdade, eu os reduzia para recompensar quem pagava em dia", disse.

"As empresas de cartão de crédito aumentam as taxas, independentemente do seu histórico, e fazem isso sem o seu consentimento. E todas aquelas tarifas ocultas? Estão nas letras miúdas", afirmou.

"Os mafiosos podem matar uns aos outros, mas todo mundo ganha uma graninha. A maioria dos negociantes, dos bancos e empresas de cartões de crédito desfalca todo mundo. Digam o que quiserem da máfia, mas seu código proíbe que os mafiosos se aproximem da casa de alguém, que dirá incomodar a família de quem deve."

O PODEROSO CHEFÃO CORPORATIVO
AUTOR Louis Ferrante
EDITORA Saraiva
QUANTO R$ 34,90 (240 págs.)
AVALIAÇÃO Regular

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