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Análise

Alta rotatividade é fruto de deformidades do mercado

FÁBIO ROMÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A expansão do mercado de trabalho formal no país durante os anos 2000, com a ampliação do número de estabelecimentos nos setores de construção civil e comércio e a incorporação de profissionais com menores níveis de renda e instrução, contribuiu para aumentar a rotatividade da mão de obra.

Segundo a Rais (Relação Anual de Informações Sociais, do Ministério do Trabalho), entre 2001 e 2010, o número de estabelecimentos ampliou-se em 45,8%, com taxas acima da média na construção civil (65,4%) e no comércio (54,9%) -setores que têm rendimentos abaixo da média do setor formal.

Segundo a PME (Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE), levantamento que abrange todas as categorias de ocupação, o salário médio real pago nas seis principais regiões metropolitanas brasileiras em 2010 superou o de 2003 em 19%, crescimento bem superior ao do salário daqueles com carteira assinada (9,4%).

As informações reforçam a avaliação de que a formalização se ampliou sobretudo em estratos de baixa renda.

Em termos regionais, os ganhos reais do salário mínimo tiveram impacto significativo. Exemplo: no Nordeste, onde a proporção de trabalhadores e beneficiários do INSS com rendimentos atrelados ao mínimo está acima da média nacional, o crescimento do número de estabelecimentos formais nos setores de construção (68,9%), comércio (79,2%) e serviços (54,5%) superou o ritmo observado nestes mesmos setores em nível nacional.

A despeito do crescimento real da renda entre 2001 e 2010, a participação dos trabalhadores com salários reais mensais até R$ 1.000 no estoque formal se manteve ao redor de 60%, o que pode ser explicado, em parte, por essa incorporação ao universo formal de trabalhadores com menor nível de rendimento.

Nesse cenário, o que explica em certa medida a elevação da rotatividade é um aumento do poder de barganha daqueles empregados com menor grau de instrução.

Isso ocorre porque alguns deles estão ocupando postos antes preenchidos por pessoas com mais treinamento ou porque houve fortalecimento daqueles que permaneceram na atividade de origem e viram aumentar a restrição de oferta em seu universo.

A alta rotatividade é, pois, fruto de deformidades em nosso mercado de trabalho, como a escassez de mão de obra treinada, dor de cabeça para quem que se preocupa com a educação no Brasil.

FÁBIO ROMÃO, 38, é mestre em economia pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) e economista da LCA Consultores.

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