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Expansão da mineração leva a protestos

Setor está aquecido na América Latina, com alta dos preços por demanda chinesa e de empresas de eletrônicos

Ações vão desde passeatas até bloqueios de estradas e sequestros de funcionários de empresas mineradoras

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

A frase "Famatina não se toca" está em camisas, pichações e comunidades em redes sociais argentinas.

O protesto de habitantes da região de Famatina, na Argentina, contra a extração de ouro em minas a céu aberto existe há anos. Mas ganhou corpo recentemente, levando o governo da província a dificultar o avanço do projeto.

Famatina é só um exemplo das manifestações que se tornaram comuns na América Latina, feitas por ambientalistas, indígenas e comunidades regionais contra mineradoras nos últimos meses.

No Equador, indígenas caminharam da província amazônica de Zamora Chinchipe até Quito. Eles protestavam contra um projeto de mineração da Ecuacorriente, empresa de capital chinês.

No Peru, a região de Cajamarca se levantou contra um empreendimento da norte-americana Newmont, que pretende secar quatro lagoas para extrair ouro do subsolo. Houve bloqueios de estradas e sequestros de funcionários.

"Os protestos estão intensos porque o setor está aquecido. Desde os anos 1990 a demanda por minerais cresce, puxando os preços. Isso se deve ao crescimento da China, ao maior consumo de eletrônicos e à busca por ouro diante da volatilidade das moedas", explica Mariano Lamothe, da consultoria argentina Abeceb.

A América Latina produz hoje 52% da prata e 45% do cobre vendidos no mundo, diz Lamothe. O consumo da China -12% do total mundial em 2000- hoje é de 40%.

A CÉU ABERTO

A mineração a céu aberto, que inclui o uso de cianureto e arsênico para separar o metal dos resíduos, é a mais criticada por ambientalistas, por ser mais nociva à saúde.

"O uso de substâncias químicas, de explosivos, de grande quantidade de água e eletricidade fazem da mineração a céu aberto algo insustentável", diz a socióloga Maristella Svampa, autora do livro "Mineração Transnacional".

"Esses empreendimentos têm impacto destrutivo sobre outras atividades, gerando enclaves dedicados à exportação que não criam cadeias endógenas relevantes. Vêm de cima para baixo e reconfiguram territórios inteiros sem consenso da população."

Já para Martín Dedeu, presidente da Câmara de Mineração Argentina, os argumentos dos que estão contra a expansão da mineração a céu aberto são mal embasados.

"As pessoas se deixam levar por um discurso alarmista apoiado em princípios científicos falsos. Esse método é mais saudável, o trabalhador não está debaixo da terra, respira melhor e está menos exposto a acidentes", afirma Dedeu.

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