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Preço de passagem sobe e rouba ritmo do setor aéreo

Segundo analistas, aumento de dois dígitos por ano não deve se repetir

Antes de privatizar os aeroportos, governo reajustou em mais de 100% tarifas pagas pelo uso da infraestrutura

MARIANA BARBOSA
DE SÃO PAULO

Depois de uma década de crescimento em torno de 15% a 20% ao ano, estimulado, sobretudo, pela queda no preço das passagens, a aviação está entrando em uma nova era: de crescimento modesto e passagens mais caras.

"Não dá para crescer infinitamente", diz Lúcia Helena Salgado, coordenadora de regulação e mercados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). "Está havendo uma freada. As tarifas estão subindo e muita gente está desistindo de viajar."

Os primeiros sinais de desaquecimento vêm do Nordeste. Desde dezembro, alguns aeroportos, como os de Salvador, Maceió e Natal, registram queda no movimento.

Até Brasília, centro de distribuição de voos para o Norte e o Nordeste, sente a freada. No primeiro bimestre, enquanto o mercado doméstico cresceu 10%, Brasília estagnou (-0,1%).

O aumento recente no preço das passagens reflete a alta de custos do setor. O preço do combustível, que representa quase 40% do custo das companhias, subiu 23%.

Soma-se a isso a escalada no preço das tarifas pagas pelas companhias aéreas para usar a infraestrutura dos aeroportos e de tráfego aéreo.

Em preparação para o novo modelo de gestão privada dos aeroportos, as tarifas cobradas pela Infraero subiram 130% no ano passado. O reajuste por parte da Aeronáutica, responsável pelo tráfego aéreo, foi de 150% em janeiro. Em 2013 haverá novo aumento, de 83%.

"As tarifas estavam fora da realidade. Sem esse aumento, você não consegue privatizar. Foi assim com todos os setores", diz Lúcia Helena.

Levantamento do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas mostra que os reajustes elevarão o faturamento anual da Aeronáutica com o setor aéreo para R$ 2,85 bilhões até 2016, ante R$ 1,23 bilhão no ano passado. Considerando a projeção de crescimento do setor, isso representa alta de R$ 10 por bilhete.

'NA VEIA'

"Sem entrar no mérito da necessidade do reajuste, são custos que entram na veia. É óbvio que temos de corrigir os preços", diz o presidente da TAM, Marco Bologna.

A companhia, com 41% do mercado, calcula em R$ 200 milhões ao ano o custo extra provocado pelo "tarifaço aéreo". Apesar de as duas maiores empresas do setor terem registrado prejuízo somado de R$ 1 bilhão em 2011, sendo o caso da Gol mais dramático por envolver prejuízo operacional, elas têm caixa e capacidade para se ajustar à nova realidade.

Mas, num setor altamente sensível a preço, há um limite para o repasse -e por isso as empresas cortam custos.

Pela primeira vez em dez anos, TAM e Gol não aumentarão a oferta. A TAM adiou a entrega de três aviões, o que significa deixar de investir US$ 180 milhões. A Gol prevê corte de custos de R$ 500 milhões: demitiu tripulantes, enxugou cargos de diretoria e cortou 10% dos voos.

"Está havendo ajuste de oferta nas rotas menos rentáveis, enquanto quem viaja a negócios vai pagar mais caro", diz Cleveland Prates, professor de regulação da Fundação Getulio Vargas.

As promoções não vão desaparecer, "mas ficarão bem mais comportadas", diz Bologna.

Para que o preço das passagens volte a cair, será necessário ampliar a concorrência. Para especialistas, é preciso estimular a concorrência entre aeroportos e facilitar a entrada de novas empresas.

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