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Vinicius Torres Freire

Mercado de Marte, BC de Vênus

BC ajuda a encarecer o dólar, derruba a taxa de juros além do previsto e estima inflação menor

O BANCO CENTRAL deu empurrões extras para levar o dólar a R$ 1,90, agora tão caro quanto no paniquito de setembro de 2011. O dólar, aliás, está na mesma casa dos tempos ainda de crise feia de meados de 2009. A volta do azedume na Europa também contribuiu para a desvalorização do real.

Mas o BC tem comprado dólar mesmo quando o mercado está seco de moeda americana. Em setembro de 2011, quando havia rumores de quebradeira bancária europeia, o BC vendia dólares a fim de acalmar a praça. De resto, o real se desvaloriza mais que seus pares do mundo emergente e/ou produtor de commodities.

Portanto, o BC tem ajudado a chutar o dólar para cima, além do que estimavam economistas do mercado. Assim como empurra os juros para baixo, para aquém do que gostariam os povos do mercado. Que, por sua vez, na média, ainda estimam inflação acima da prevista pelo BC.

O mercado é, pois, de Marte, e o BC é de Vênus. Na média, os observadores econômicos do setor financeiro gostariam de ao menos uma guerrilha contra a inflação. O BC, para esse pessoal, é a pomba da paz e do amor.

"Pombo", no jargão financeiro, é o apelido dos que não enxergam altas da inflação adiante ou encaram o problema sem reações frenéticas.

O presidente do BC, Alexandre Tombini, é chamado de "Pombini" por gente do mercado, o que, aliás, não condiz com a figura nem em termos profissionais, intelectuais ou pessoais, mas passemos.

Não se sabe se o BC tem motivos esotéricos e recônditos para sua atitude de comprar dólar e, assim, ajudar a valorização da moeda em relação ao real. Mas decerto não deve acreditar que a desvalorização do real tenha impacto na inflação (dólar mais caro aumenta custos de produção e pelo menos não exige que produtores brasileiros reduzam preços a fim de enfrentar a concorrência de importados).

Como o BC tem derrubado os juros, pode-se deduzir que a autoridade monetária não está na verdade nem um pouco preocupada com o efeito do dólar na inflação.

O mercado é de Marte, o BC é de Vênus, e a política econômica brasileira, para o bem ou para o mal, é de outro planeta (se comparada com a que vigorou por aqui até mais ou menos 2010; e de outra galáxia, se considerada a política da primeira metade dos anos 2000).

Na prática, o BC reafirma o prognóstico que tem feito desde 2011, de letargia ou coisa pior na atividade econômica mundial, mesmo que nos comunicados que publica venha pintando um quadro menos lúgubre da situação internacional. O pessoal do BC reafirma também que a economia brasileira desacelerou muito mais do que imaginava.

E A BOVESPA, HEIN?

O Ibovespa subiu no ano uns 20% até 13 de março. Desde então, desce a ladeira: caiu 8,9%.

Ações de bancos apanham, por causa da inadimplência e do ataque do governo contra seus lucros. Ações da construção civil apanham, com o marasmo da construção.

Não ajuda o Ibovespa o marasmo da Petrobras, abatida por investimentos grandes e retornos longínquos, além de controle de preços da gasolina e outros prejuízos.

Mas é só isso?

vinit@uol.com.br

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