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China tenta trocar imagem de 'lixo' por luxo

Para competir com marcas europeias, país quer superar rótulo de terra das bugigangas

Gabriel Baldocchi/Folhapress
Escritório da Mary Ching, em Xangai
Escritório da Mary Ching, em Xangai

GABRIEL BALDOCCHI
ENVIADO ESPECIAL A XANGAI

Na butique de luxo Shang Xia, em Xangai, o chá dá lugar ao champanhe.

A bebida é servida a visitantes chineses e estrangeiros em busca de peças que custam até 80 mil yuans (cerca de R$ 23 mil).

De tão finas, as xícaras são chamadas de cascas de ovo e produzem um ruído semelhante ao de um sino, quando tocadas.

O barulho é essencial para demonstrar aos clientes o diferencial dos artefatos "made in China".

A excelência artesanal da porcelana "casca de ovo" faz parte da estratégia de empresários locais que se esforçam para criar marcas chinesas com força para disputar mercado com os grupos ocidentais de tradição em luxo.

O resgate da história imperial e de itens reconhecidos pela manufatura artesanal ímpar é a forma de enfrentar o legado centenário das companhias europeias no setor.

O desafio é se dissociar da imagem de produção de baixa qualidade, voltada para um mercado de massa.

Marcas consolidadas como Gucci e Louis Vuitton despertaram nos últimos anos para o potencial da China e encontram no país a força motriz de seus ganhos atuais.

RELÓGIOS SUÍÇOS

Chineses já consomem quase 30% dos relógios de luxo suíços. Sem contar os gastos fora do país, em que eles representaram 22% das vendas da Gucci na Europa.

Tamanha avidez por itens de marca dá força ao surgimento dos representantes locais. Não se trata, segundo analistas, de uma troca de marcas ocidentais por chinesas, mas de uma convivência complementar em um mercado que amadurece.

"É um fenômeno recente, mas que provavelmente veremos com mais força nos próximos anos", diz Benjamin Cavender, analista da China Market Research Group.

No que depender da pujança do mercado, o caminho é próspero. O setor de luxo fatura cerca de € 10 bilhões (R$ 24,9 bilhões) na China e cresce a um ritmo superior a 30%, o mais acelerado do mundo.

Nas previsões de consultorias, a liderança do país é uma questão de tempo, cerca de três anos.

"Há pessoas na China que gostariam de ver mais luxo vindo da China. A hora é agora para que marcas locais e controladas por chineses sejam lançadas", diz Nick Debnam, analista da KPMG.

Para a marca de calçados Mary Ching, ser chinês é a principal qualidade. O slogan traduz o conceito: "Orgulho de ser 'made in China'".

"A questão é que nunca houve acesso a marcas nascidas na China e com design local. Há uma rica história de artesanato, cerâmica, alfaiataria e design, mas nunca foram apresentadas sob um teto ou marca", diz a fundadora, Alison Mary Ching.

O jornalista GABRIEL BALDOCCHI viajou a convite da Qatar Airways e do Ritz-Carlton.

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