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Análise Bolsa

Como contratos futuros vão reagir a juro baixo no Brasil?

PAULO PICCHETTI
ESPECIAL PARA A FOLHA

O mercado de contratos futuros de commodities agrícolas nas economias centrais desenvolveu-se de forma acelerada durante o século passado, desempenhando um papel fundamental na estruturação do planejamento e das decisões de produtores e consumidores.

Além desse papel, argumenta-se que a tendência de baixos níveis nas taxas de juros praticadas nesses países durante os últimos anos impulsionou também uma motivação especulativa com relação a esses ativos.

Parte do aumento dos preços das commodities agrícolas no mercado internacional poderia ser então atribuída a esse movimento.

Enquanto testes empíricos não são completamente conclusivos com relação a essa hipótese, sabe-se, por outro lado, que no mínimo o aumento do número de transações nesses mercados estaria associado a um efeito causal sobre a volatilidade dos preços à vista dos produtos correspondentes.

Nesse contexto, discute-se o aumento da regulação dos derivativos de commodities. No Brasil, esses mercados vêm crescendo e se consolidando ao longo dos anos.

Atualmente, são negociados contratos futuros e opções sobre boi gordo, milho, soja, etanol e café na BM&FBovespa -uma quantidade relativamente pequena de produtos comparando-se à dos mercados das economias centrais.

Uma medida do tamanho do mercado pode ser obtida a partir do número mensal de contratos negociados, disponível na BM&FBovespa.

A série histórica conta com um claro padrão sazonal, decorrente dos períodos de safra relevantes, e de oscilações aleatórias provocadas por choques enfrentados pela economia tanto do lado real como do financeiro.

Usando um modelo estatístico para isolar da tendência da série de número de contratos negociados esses fatores sazonais e aleatórios, temos o comportamento que pode ser visto no gráfico nesta página.

A série, iniciada em dezembro de 2000, mostra forte crescimento a partir de 2004, interrompido pela crise financeira internacional de 2008.

Nos mercados norte-americanos, temos a recuperação ao longo de 2009/10, que resulta em um número de contratos negociados superior ao do período pré-crise.

No Brasil, essa recuperação também ocorreu, mas não de forma suficiente para superar os níveis anteriores.

Até agora, o argumento acerca do componente especulativo desse mercado parece não caber de forma equivalente no caso brasileiro.

Será interessante acompanhar o novo período marcado por um patamar reduzido de taxas de juros reais comparado aos valores históricos.

PAULO PICCHETTI, doutor em economia pela Universidade de Illinois (EUA), é professor da EESP/FGV e coordenador do IPC-S/Ibre/FGV.

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