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Casino afasta Abilio e agita investidores

Enredo teve corte, manobras e 'traições'

Saída de Diniz de conselho do Casino, aprovada ontem, é emblemática do isolamento de brasileiro na holding

Agastado com tentativa de compra do rival Carrefour, Casino arquitetou operação para afastar Abilio

JULIO WIZIACK
TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

A pouco mais de um mês de o grupo francês Casino assumir o comando do Grupo Pão de Açúcar, a disputa que pode levar à saída de Abilio Diniz da empresa que sua família fundou segue sem um desfecho e deixa inseguros os investidores.

Ontem, o Casino aprovou em assembleia a saída de Abilio Diniz de seu conselho na França, do qual fazia parte desde 2000. Agora, a disputa entra na reta final até o dia 22 de junho, quando o grupo francês assumirá o comando do Pão de Açúcar.

O Casino comprou o controle do grupo brasileiro em 2006. Pelo acordo, Abilio seguiria na presidência do conselho do Pão de Açúcar -no qual tem assento vitalício-, mas com menos influência.

"TRAIÇÃO"

A convivência amigável valia até maio de 2011, quando Abilio Diniz tentou comprar o Carrefour no Brasil provocando a ira do Casino, que se disse "traído" por não ter sido informado da operação.

O negócio com os principais rivais do Casino acabou não saindo e, desde então, Abilio Diniz e Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, só se falam por intermédio de seus advogados.

Agora, os dois lados negociam o "divórcio". Abilio poderia continuar no grupo como o maior acionista minoritário (21,3%), mas, diante das incertezas, negocia a saída.

A Folha apurou que uma das possibilidades seria ficar com a Viavarejo, empresa do Grupo Pão de Açúcar formada em 2009 e que reúne Casas Bahia e Ponto Frio, mas há resistência da família Klein -os fundadores da Casas Bahia.

Outra saída seria receber um pagamento em dinheiro por sua participação.

Oficialmente, o Casino diz que nada mudará após 22 de junho e que os principais executivos serão mantidos.

CAUTELA

Diante do sobe-desce das ações provocado pelo impasse que perdura desde maio do ano passado, algumas corretoras voltaram a pedir cautela a seus clientes.

Entre maio e agosto de 2011, os papéis tiveram queda de até 20%, mas recuperaram 28,8% neste ano com a aposta em um entendimento entre os acionistas. Fundos de investimento agressivos viram uma chance de ganhar dinheiro e passaram a comprar ações.

Em março, a Folha revelou que o grupo francês tem planos de integrar as subsidiárias na América Latina, uma operação que diluiria a participação de Abilio Diniz, extinguindo automaticamente o acordo assinado em 2006 com o Casino. Com isso, os franceses poderiam retirá-lo do grupo. O Casino negou.

REBAIXAMENTO

Em seu mais recente relatório, o Citi excluiu as ações do Pão de Açúcar da carteira de papéis recomendados. Motivo: incertezas sobre a troca de comando e a manutenção de "executivos-chave".

Para os analistas do Citi, a série de conflitos entre os controladores estende-se por tempo considerado excessivo e as ações atingiram o "preço-alvo" nesse cenário.

Agora, só poderão subir caso haja sinalização do Casino sobre o futuro da gestão do Pão de Açúcar.

Um mês antes, dois analistas do banco consideraram que, no curto prazo, as ações não deveriam sofrer queda, mas uma "eventual saída de Abilio ou mudanças estratégicas seriam, por sua vez, mal recebidas".

Essa preocupação também foi transmitida pelo Bank of America/Merrill Lynch, que aposta numa solução positiva para o conflitos.

"O investidor quer clareza sobre se haverá um acordo amigável para continuar apostando na companhia", diz Tzu-Wing Yee, analista da CM-CIC Securities, especialista em mercado brasileiro. "Com a crise na França, o Casino se voltou para o Brasil."

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