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Cifras & Letras

CRÍTICA / o CRESCIMENTO BRASILEIRO

Economistas desconstroem período de bonança do país

Com receituário liberal, livro revela problemas ofuscados por versão oficial

Lalo de Almeida - 2.fev.12/Folhapress
Pátio de aeronaves do aeroporto de Guarulhos, privatizado neste ano
Pátio de aeronaves do aeroporto de Guarulhos, privatizado neste ano

MARIANA CARNEIRO
DE SÃO PAULO

O preço dos imóveis nas capitais disparou, a empregada doméstica ficou mais cara e, se você acaba de ganhar um vizinho português, não estranhe. É o retrato do Brasil da segunda década do século 21, a sexta economia do mundo.

Para os interessados em saber se há riscos por trás de tanta exuberância, o livro "Além da Euforia", dos economistas Fábio Giambiagi e Armando Castellar, reúne informações relevantes.

A proposta dos dois é mostrar uma "versão diferente da oficial", segundo palavras dos próprios autores, para o crescimento da economia desde 2004 e apontar tarefas inconclusas que podem interromper a fase de bonança.

Um livro crítico, com o objetivo de revelar problemas econômicos ofuscados por resultados positivos.

O leitor poderá entender por que os gastos públicos impedem um crescimento mais acelerado e os motivos pelos quais a indústria brasileira sofre tanto com a concorrência dos importados.

Isso se explica pela baixa produtividade e pela deficiência crônica na infraestrutura, dizem os autores. Dois pontos que, aliás, já apresentam a sua fatura e retiram impulso da pretendida arrancada no crescimento que o governo busca neste momento.

Capítulo especialmente interessante trata das contas externas do país. Os autores fazem uma viagem no tempo em crises do passado -até a eliminação da dívida com credores estrangeiros, no governo Lula. Mostram como os bens primários ajudam a manter a conta no azul e onde o deficit está aumentando de maneira silenciosa.

HERANÇA

Para Giambiagi e Castellar, muitos dos resultados colhidos pelo governo do PT foram semeados na gestão FHC, sobretudo a adesão ao sistema de metas de inflação, em 1999, que estipula limites para as despesas públicas (superavit primário) e desobriga o governo a manter uma cotação fixa para o dólar.

Os autores têm em comum a passagem pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Deixaram o instituto em 2007, quando o comando passou às mãos do petista Márcio Pochmann.

Giambiagi trabalhou com José Serra no Ministério do Planejamento, em 1995, e hoje está no BNDES. Castellar, depois de passar pela gestora de Armínio Fraga, a Gávea Investimentos, hoje coordena o Departamento de Economia Aplicada do Ibre, da FGV-Rio, reduto de economistas de linha ortodoxa.

A proximidade com o pensamento econômico do PSDB não impede que os autores cedam elogios a avanços obtidos no governo Lula, como a redução em 45% do número de desempregados entre 2003 e 2011. Mas, sem rodeios, o objetivo do livro é apontar problemas seguindo o receituário liberal.

Episódios controversos para o governo, como a recente privatização dos aeroportos e o desencontro de versões sobre os gastos públicos, também têm espaço. Definitivamente, o leitor sairá mais bem informado -e desconfiado-depois de passar pelas 312 páginas deste livro.

ALÉM DA EUFORIA
AUTORES Fábio Giambiagi e Armando Castellar
EDITORA Campus-Elsevier
QUANTO R$ 79,90 (312 págs.)
AVALIAÇÃO Bom

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