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No Paraguai, Black Friday começa na quinta

Consumidor compra um videocassete e ganha outro em megaliquidação que termina hoje em Ciudad del Este

Sacoleiros dizem que lojas elevaram preço para depois reduzir ao valor normal e vender como se fosse promoção

LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL A CIUDAD DEL LESTE

Bem na fronteira com o Brasil, Ciudad del Este ficou conhecida como meca do contrabando e da falsificação de produtos. Mas, agora, de olho em consumidores endinheirados, a cidade decidiu dar um lustro na imagem. E inventou a primeira Black Friday do Mercosul.

Para quem não está afeito, Black Friday é invenção americana que se incorporou ao calendário do consumo daquele país, como o Natal ou o Dia dos Namorados.

Nos Estados Unidos, acontece na primeira sexta-feira -daí o nome- depois do Dia de Ação de Graças. É uma megaliquidação. As lojas abrem de madrugada e fecham tarde da noite. Cenas de desespero por um iPad.

Em Ciudad del Este, a Black Friday começou na quinta-feira -estranho. E estende-se até hoje, para aproveitar o frenesi consumista do Dia das Mães.

A promessa era grande. Das 4.300 lojas da cidade, 25% ofereceriam descontos de 20% a 70% nos preços de 14 mil mercadorias.

A perspectiva dos comerciantes era faturar em quatro dias US$ 150 milhões -350% mais do que o movimento médio do ano, apesar do dólar alto (R$ 1,96) e da repressão ao contrabando e ao descaminho de mercadorias, do lado brasileiro.

"Acabou que isso virou um black bate perna", disse a comerciária de Cascavel (PR) Andressa Alexandra, 23.

"Já andei o shopping Lai Lai inteiro, fui até o Americana, percorri o Vendôme, o Barcelona, o Continental, o Greta [alguns centros de compras de Ciudad del Este]. Tudo para achar alguma promoção legal. Não achei."

E olha que o interesse de Andressa é amplo: perfumes, maquiagem, bebidas, relógios e eletrônicos.

BLACK FRAUDE

"Esquece Black Friday. Essa promoção é uma Black Fraude", diz Everton de Oliveira, 33, hoteleiro no Paraná. Ele limpou as dívidas do cartão de crédito para ter R$ 10 mil disponíveis para as compras.

"Mas não consegui gastar. Nos produtos que importam, os preços estão onde sempre estiveram."

A Minimundo, por exemplo, oferecia na sexta-feira descontos de mais de 50% nos preços de videocassetes, tocadores de fitas cassete e TVs de tubo. Túnel do tempo tecnológico.

A Folha perguntou a um vendedor o preço de um videocassete em exposição. "Viu o meu o quê?", retrucou o jovem, alarmado. Nesse caso, não ajudou nem o fato de Ciudad del Este ser a capital assumida do portunhol.

Mal entendido resolvido, descobriu-se: a Minimundo oferecia o videocassete a

US$ 63 (R$ 123). E ainda: se o cliente comprasse um, levaria outro, de mesmo modelo, de graça. O comprador, que já não saberia o que fazer com um desses troféus, ainda teria de se haver com dois.

Juan Ramirez, comerciante há 20 anos em Ciudad del Este e um dos idealizadores da Black Friday paraguaia, acha que isso não é um problema.

"Nos Estados Unidos também o dia é usado para fazer a limpa dos estoques, a fim de liberar espaço para as novas mercadorias."

O problema com os sacoleiros brasileiros é que eles, habituados como estão a Ciudad del Este, conhecem tudo do local -até o último pendrive. Difícil enganá-los.

PROMOÇÃO FALSIFICADA

A loja La Petisquera anunciava com alarido que vendia o uísque Red Label a US$ 16,50.

"Esse é o preço normal por aqui. Só que eles agora dizem que aumentou para US$ 18 ou US$ 19. Com o desconto da Black Friday, o preço teria caído. Sabe para quanto? Para US$ 16,50. Agora, não é o uísque que é falsificado. É a promoção!", diz Aurea de Camargo, 43, de Araraquara (SP).

É claro que, ainda assim, Ciudad del Este oferece produtos a preços competitivos para os padrões brasileiros, já que é duty free, livre de impostos.

Exemplo: um console do videogame da hora, o portátil PSVita, da Sony, com acessórios, que nas lojas mais baratas do Brasil custa cerca de R$ 1.400, sai por R$ 880 em Ciudad del Este.

Já valeria a visita, mas quem esperava mais ficou decepcionado.

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