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Julio Vasconcellos

O segredo dos banqueiros suíços

Para obter êxito, o empreendedor precisará de uma diversidade de pessoas devidamente combinadas

Um grande amigo e hoje colega de trabalho costuma dizer que o segredo dos banqueiros suíços é colocar "os otimistas no departamento de marketing e os pessimistas no departamento de crédito".

Não sei ao certo de onde ele tirou isso, mas faz bastante sentido e sintetiza os desafios de qualquer empreendedor tanto na escolha de sócios como na montagem de equipes.

Mais difícil até do que escolher as pessoas adequadas é colocá-las nos lugares certos. Ou, como escreveu Jim Collins em "Good to Great", além de definir quem deve subir ou descer do ônibus, é preciso definir também em que assento as pessoas devem estar sentadas.

Ao ajudar a conduzir o crescimento exponencial de uma empresa que foi de quatro para mil colaboradores em menos de 24 meses, tive a oportunidade de conviver, em um período muito curto, com várias facetas desse dilema e suas ambiguidades.

Dois textos diferentes com que me deparei nos últimos tempos têm sido bastante úteis para pensar essa questão.

O primeiro é um artigo, já antigo, de Stephen Kanitz publicado na revista "Veja" ainda na década de 1990 e enviado por esse mesmo amigo que costuma tirar referências aleatórias de seu Evernote.

Kanitz fala da necessidade de o Brasil ter mais pessoas com acabativa nos lugares certos. Segundo ele, "os seres humanos podem ser divididos em três grupos, dependendo do grau de iniciativa e acabativa de cada um: os empreendedores, os iniciativos e os acabativos. Iniciativos são criativos, têm mil ideias, mas abominam a rotina necessária para colocá-las em prática. Acabativos são aqueles que gostam de implantar projetos. Sua atenção vai mais para o detalhe do que para a teoria. Não se preocupam com o imenso tédio da repetição do dia a dia e não desanimam com as inúmeras frustrações da implantação. Empreendedores são aqueles que têm iniciativa e acabativa. Um seleto grupo que não se contenta em ficar na ideia e vai a campo implantá-la."

Outro texto que trabalha outra faceta dessa mesma questão é "Quiet: The Power of Introverts in a World That Can't Stop Talking", de Susan Cain.

O livro que defende os introvertidos e suas contribuições para a nossa sociedade não deixa de ser menos relevante para explicar os dilemas com que me deparei nos últimos dois anos. E essa combinação "sui generis" de personalidades acaba aparecendo de maneiras improváveis na história.

Como a própria autora ressalta, em tradução livre, "pegue por exemplo a parceria entre Rosa Parks e Martin Luther King Jr.: um orador excepcional se recusando a dar o seu lugar em um ônibus de bancos segregados por cor não teria tido a mesma enorme repercussão como a modesta mulher que claramente preferiria se manter em silêncio, a não ser que as circunstâncias exigissem. E Parks não teria a mesma incrível capacidade para encantar a multidão se ela tivesse de levantar e anunciar que ela teve um sonho. Mas com a ajuda de King, ela não precisou".

Feitas as devidas adequações, observei isso na atuação de uma das profissionais mais competentes que conheci na área de comunicação corporativa. Ao mesmo tempo em que instrui e traça estratégias para empresas com grande exposição na mídia é, no dia a dia, um tanto tímida e silenciosa. Fala apenas depois de pensar muito e talvez por isso traga consigo a "força moral" de uma Rosa Parks.

Não sei o que encontrarei pela frente, mas, considerando o que observei e o que vivi até aqui, o empreendedor, para ter êxito, precisará de uma diversidade de pessoas devidamente combinadas, pois, como já escreveu João Cabral de Melo Neto, "um galo sozinho não tece uma manhã".

JULIO VASCONCELLOS, 31, economista, é fundador e presidente-executivo do site de compras coletivas Peixe Urbano. Escreve às quintas-feiras, a cada quatro semanas, nesta coluna.

julio.folha@yahoo.com

AMANHÃ EM MERCADO:
Rodolfo Landim

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